Embaixador turco crê em conversa sobre FMI com Amorim, mas descarta formação de frente

18/03/2004 - 18h49

Nadia Faggiani
Repórter da Agência Brasil

Brasília, 17/3/2004 (Agência Brasil - ABr) - O ministro das Relações Exteriores Celso Amorim chega a Âncara, capital turca, nesta quinta-feira. Até sábado, ele visita o país como convidado oficial do Governo turco e terá encontros com o presidente Ahmet Necnet Sezer e o chanceler Abdullah Gül.

Amorim é o primeiro chanceler brasileiro a visitar a Turquia. Segundo nota do Itamaraty, "a visita busca explorar o potencial de crescimento das relações entre dois países de nível semelhante de desenvolvimento". Nos seus encontros, diz o ministério, temas da agenda bilateral e internacional e cooperação nas áreas de ciência e tecnologia, indústria aeroespacial, espaço exterior, turismo e defesa.

Brasil, Argentina e Turquia são os três países que atualmente têm as maiores dívidas com o Fundo Monetário Internacional (FMI). Em entrevista exclusiva à Agência Brasil, o embaixador da Turquia no Brasil, Sevinc Dalyanoglu, afirmou que, na visita de Amorim, os dois países também poderão discutir as relações com os organismos internacionais de crédito, mas diz não acreditar na formação de uma frente comum por melhores negociações junto ao FMI entre os países.

"O assunto é importante e deve ser discutido, mas não tenho informação de que a Turquia vai entrar nessa discussão entre Brasil e Argentina frente ao FMI. Meu entendimento é de que há diferença entre a posição que o Brasil e a Turquia adotam frente ao Fundo da posição adotada pela Argentina. Brasil e Turquia possuem relações especiais com o FMI, seguem os acordos e não têm nenhum problema com o Fundo, ao contrário da Argentina’, ressaltou Dalyanoglu. O Itamaraty nega que a relação com organismos internacionais de crédito esteja na pauta de discussão do ministro Celso Amorim em Âncara.

Na última terça-feira, os presidentes do Brasil e da Argentina assinaram a "Declaração sobre a Cooperação para o Crescimento Econômico com Eqüidade", documento em que propõem que os acordos feitos com organismos financeiros internacionais preservem o crescimento com elemento essencial das metas de superávit primário.

Segundo o embaixador turco, devido às diferenças entre os países, cada um deve adotar uma postura independente junto ao FMI. Ele afirma que as reformas bancárias e as privatizações são situações impostas pela economia global e não pelo FMI, daí a dificuldade em criar uma frente comum.

A meta da Turquia com o FMI é alcançar este ano 6,5% do PIB (Produto Interno Bruto) em seu superávit primário (receitas menos despesas de um governo, exceto pagamento de juros). O embaixador Sevinc Dalyanoglu compara o superávit primário do Brasil, de 4,25%, com o da Turquia e afirma que a meta deve levar em conta a magnitude das economias. "A economia brasileira, a população, a balança comercial são maiores que as da Turquia. Para um país como o Brasil, exigir 6,5% será excessivo em comparação com a magnitude do país. A meta do superávit primário está relacionada ao PIB, à grandeza do país e à balança comercial. O ingresso de moedas estrangeiras e a balança de pagamentos podem ajudar a Turquia a atingir a meta de 6,5%", afirma Sevinc Dalyanoglu.

A Turquia receberá nos próximos dias mais uma parcela de US$ 500 milhões do FMI. Ao divulgar a liberação da nova parcela, o país reafirmou sua intenção de apressar reformas estruturais – privatizações, seguridade social e impostos.

Segundo o Itamaraty, o Brasil contou com o voto da Turquia para ocupar assento no Conselho de Segurança das Nações Unidas no período 2004-2005 e, portanto, apóia a candidatura turca a um assento naquele órgão para o período 2009-2010.