Excesso de regulamentação é o principal entrave para negócios na América Latina, apontam empresários

16/03/2004 - 16h36

Alana Gandra
Repórter da Agência Brasil

Rio de Janeiro - Pesquisa realizada pela consultoria PricewaterhouseCoopers, com 250 líderes empresariais(CEOs) da América do Sul, aponta o excesso de regulamentação como principal ameaça à realização de negócios na região.

Segundo o estudo, a alternativa foi indicada por 72% dos consultados. O co-autor do relatório final da pesquisa, Roberto Teixeira da Costa, Presidente do Conselho de Empresários da América Latina (Ceal), disse que o ambiente regulatório é de fato o principal motivo de preocupação para os empresários. "Quer dizer, o excesso de regulação, a dificuldade e a previsibilidade continuam sendo temas que estão sempre presentes nas preocupações dos empresários", afirmou.

Como segunda maior ameaça, com 62% das respostas, aparece a instabilidade cambial. Roberto Teixeira da Costa avaliou que, realmente, a questão cambial na América Latina tem sido um fator negativo para a realização de negócios. "O problema das oscilações cambiais tem minimizado através do surgimento de uma série de mecanismos de "hedge" (proteção)". No caso do Brasil, Teixeira da Costa mencionou a existência de muitas reclamações dos controladores das empresas privatizadas no passado que entraram no país com uma taxa de cãmbio determinada e que mais tarde tiveram os resultados dos investimentos previstos prejudicados devido às desvalorizações cambiais, porque as empresas têm quer aumentar substancialmente o ganho no país para compensar a instabilidade cambial.

O elevado custo de capital ocupou a terceira posição entre os maiores entraves aos negócios apontados pelos CEOs da América do Sul. Nesse caso, a situação do Brasil difere dos demais países."Nós continuamos com essa triste liderança. O México, que já tem "investment grade", e o Chile são países, hoje, privilegiados em termos de acesso a capital.

A Argentina, pela própria situação econômica interna, está hoje impedida de acessar os mercados mundiais, enquanto o Brasil tem acessado, mas pagando um custo de capital muito elevado e isso cria, evidentemente, um problema de isonomia muito grande para as empresas brasileiras, que são obrigadas a concorrer no mundo globalizado, tendo de pagar taxas disparatadas em relação ao que os seus concorrentes mundiais estão pagando".

A pesquisa da PricewaterhouseCoopers foi feita entre outubro e dezembro de 2003 e sinalizou, de acordo com Teixeira da Costa, otimismo dos CEOs em relação ao desempenho das economias em 2004. "A América Latina vem passando por períodos de crescimentos negativos mas, em geral, os empresários estavam olhando este ano com uma lente mais otimista. Eu espero que, depois do segundo trimestre, principalmente no caso brasileiro, essa visão possa ser confirmada", disse.

O relatório apresenta a constatação de que o terrorismo preocupa tanto os empresários sul americanos, como os da América do Norte. O tema foi apontado por 14% dos líderes empresariais. Roberto Teixeira da Costa indicou, porém, a necessidade de se distinguir nesse tópico dois tipos de terrorismo.

Enquanto predomina na região norte-americana a preocupação com o terrorismo religioso e cultural, na América Latina a ameaça reside na segurança interna, envolvendo ataques de marginais, assaltos a residências e automóveis etc.

A gestão de risco é considerada pela maioria dos líderes empresariais pesquisados um tema importante para a efetivação de negócios. A superação dos riscos depende de país para país, declarou o Presidente do CEAL. Em certas nações, a gestão de riscos é mais praticada porque as variáveis que afetam o risco são melhor mensuráveis: "a instabilidade , a imprevisibilidade criam uma dificuldade de mensuração maior que acaba afetando a taxa de risco do país e, portanto, o custo de capital".