Especial 3 - Banco Mundial recomenda parceria entre governo e pecuaristas em benefício da Amazônia

14/03/2004 - 12h49

Cristina Guimarães
Repórter da Agência Brasil

Brasília - No ano passado o Banco Mundial divulgou o estudo "Causas do Desmatamento da Amazônia Brasileira", que traz um histórico sobre a evolução da atividade agropecuária na Amazônia e seus impactos.

De acordo com o documento, nos últimos 30 anos houve um incremento de 91% da áreas desmatada convertida em pecuária. Em 1970, as áreas desflorestadas com fins agropecuários não chegavam a 3% da área total da região e hoje representam mais de 10%. A principal mudança no uso do solo é a enorme expansão da área ocupada pelas pastagens, ocupando cerca de 70% das áreas desmatadas em 1995.

Em 1970, a Amazônia era um vazio demográfico. As propriedades privadas representavam 12% do território da região, sendo que mais de 80% delas não eram desmatadas. Por causa da reduzida infra-estrutura na região, as terras tinham preços mais acessíveis do que em outras regiões do país, o que estimulou a migração da população e de atividades produtivas para o norte. Além desse aspecto, a Amazônia tem abundância de terras agricultáveis e condições climáticas favoráveis. A agricultura não compete com a pecuária nas regiões de floresta. Em geral, as barreiras naturais são mais restritivas à agricultura. De acordo com o estudo, a taxa média de crescimento do rebanho bovino no Mato Grosso foi de 6%, e no Pará de 5%, enquanto a média nacional foi de 1,1%.

O ganho econômico da pecuária na Amazônia decorre dos altos índices de produtividade. De acordo com o Banco Mundial, os incentivos fiscais, subsídios e especulação com a terra não desempenham papel prioritário. Os subsídios e créditos de governo para a agropecuária diminuíram significativamente na década de 90, embora não tenha sido percebido efeito sobre o desmatamento.

O ganho social da produção pecuária tem sido registrado em âmbito nacional. De acordo com o estudo do Banco Mundial, a pecuária da Amazônia permitiu a queda significativa dos preços da carne nos últimos cinco anos. O estudo mostra que ao mesmo tempo, as exportações de carne cresceram de 350 mil toneladas, em 1999, para 900 mil toneladas em 2002, o que representa US$ 1 bilhão em divisas. O estudo não analisa se a pecuária na região gera maiores ganhos de bem-estar do que os custos sociais, ambientais e econômicos, e se estes ganhos beneficiam a população local mais pobre.

Para o Banco Mundial, a tendência de aceleração do crescimento da criação de gado e da área de pastagem será mantida. O estudo alerta que há barreiras naturais à expansão da pecuária e da fronteira agrícola, como os altos índices de chuva. Ele aponta como recomendação ao governo a estratégia de trabalhar com os pecuaristas, e não contra eles.