Lula diz a quilombolas que não colocou uma negra no Ministério para ser enfeite

12/03/2004 - 13h23

Gabriela Guerreiro
Repórter da Agência Brasil

Cavalcante (GO) - O presidente Luiz Inácio Lula da Silva lançou hoje uma série de medidas na Comunidade Kalunga, interior de Goiás, que atenderão as principais necessidades dos descendentes de escravos que vivem na região. O presidente voltou a pedir calma aos brasileiros para que ele possa realizar suas principais promessas, e garantiu que sua meta é tornar o sonho dos mais pobres realidade.

"Se não dá para fazer dez coisas de uma só vez, vamos fazer uma. Mas vamos fazer. Se a cada ano a gente fizer uma, no final de quatro anos, tem quatro coisas feitas. E se ficar tateando e não definir o que quer priorizar, a gente termina o mandato e vocês continuam na mesma pobreza e descaso", afirmou.

Ao dirigir-se especialmente às comunidades quilombolas, Lula disse que não colocou a ministra Matilde Ribeiro à frente da Secretaria Especial de Política de Promoção da Igualdade Racial por acaso. "Não colocamos uma negra de ministra para ser enfeite em Brasília. Colocamos uma negra na Secretaria com a responsabilidade de ministra para que ela levante dentro do governo os problemas dos negros e negras do Brasil", ressaltou.

Enfático, Lula perguntou à Comunidade Kalunga quantos presidentes da República visitaram quilombos. "Eu duvido que a maioria de vocês imaginou ter a presença de um presidente aqui na região", afirmou. E garantiu que todas as medidas que foram anunciadas durante a sua visita vão ser colocadas em prática.

A principal reivindicação dos Kalungas é regularizar as terras que ainda não foram legalizadas pelo governo federal como propriedade de remanescentes de quilombos. Lula disse que não anunciaria benefícios à comunidade sem que a terra fosse ficar nas mãos dos quilombolas. "Nós não rasgamos dinheiro. Não íamos fazer uma casa para que depois o povo fosse enxotado da casa pelo dono da propriedade. O que foi anunciado aqui vai ser feito", garantiu.

O presidente reiterou a meta de até o final de 2007 levar energia elétrica para todos os municípios brasileiros. Em Kalunga, o presidente garantiu que isso vai acontecer até o final do ano que vem.

O presidente Lula permaneceu na Comunidade Kalunga por mais de duas horas. Ele visitou a escola, a quadra de futebol e acompanhou apresentações de danças típicas africanas. O presidente revelou que o momento que mais o emocionou durante a visita foi conhecer uma escola na qual uma mulher de 39 anos disse que se sentia com 14 anos, por ter a oportunidade de ler e escrever. "Se uma mulher de 39 anos está entrando na escola agora, imagine o que se cometeu de erros com as comunidades negras no país, e sobretudo com aqueles que moram mais distantes", ressaltou Lula.

O presidente reiterou que vai continuar andando pelo interior do Brasil para conhecer de perto a realidade do país. Segundo o presidente, só as pessoas com "poder de fogo" conseguem se aproximar de políticos para serem atendidos. "Temos os que ganham mais em detrimento de quem ganha menos. Os tempos mudaram. Já que vocês não podem ir a Brasília, o presidente vem até aqui. Vocês pertencem a um partido chamado Brasil e têm que ser tratados com decência e dignidade. Acabou o tempo em que os remanescentes de quilombos eram tratados como pessoas segregadas".

No total o governo vai investir cerca de R$ 17 milhões na Comunidade Kalunga. Entre as ações do governo federal em parceria com o governo de Goiás, estão a inauguração de 19 quilômetros de eletrificação rural e a entrega da escritura de parte das terras kalungas.