Brasília, 10/3/2004 (Agência Brasil - ABr) - A alta concentração de gás carbônico na atmosfera, gerada pelo uso de combustíveis fósseis, como os derivados do petróleo, está dando uma nova face à floresta amazônica, de acordo com um estudo que será publicado na revista científica Nature amanhã. O estudo envolve cientistas americanos e o Instituto Nacional de Pesquisas da Amazônia (Inpa).
Os pesquisadores demarcaram 18 áreas de um hectare cada e acompanharam o crescimento de quase 13,7 mil árvores de tronco com diâmetro superior a 10 cm ao longo de 20 anos. Das 115 espécies analisadas, 27 apresentaram grandes mudanças no que diz respeito à taxa de crescimento, tanto em tamanho individual quanto em população. Entre essas espécies, 14 cresceram acima do normal em tamanho e em população. Outras 13, que têm crescimento mais lento, perderam seu espaço na floresta.
Além disso, a pesquisa mostrou que as árvores estão morrendo mais cedo e sendo substituídas por árvores jovens mais rapidamente. A longo prazo, isso pode indicar que a floresta corre o risco de estar perdendo a capacidade de filtrar o ar.
"Em linhas gerais, as árvores maiores e que crescem mais rápido estão vencendo a disputa com as árvores menores e de crescimento menos acelerado", informa o pesquisador Alexandre Oliveira, da Universidade de São Paulo (USP). Segundo o artigo na Nature, a causa mais provável dessas mudanças é a concentração de gás carbônico na atmosfera. Os pesquisadores acreditam que esse excesso de gás carbônico está aumentando a competição por luz, água e nutrientes do solo, beneficiando as espécies maiores.
"É assustador perceber que florestas aparentemente intactas podem mudar tanto e tão rapidamente", disse à agência Reuters o coordenador da pesquisa, William Laurance, do Instituto Smithsonian de Pesquisas Tropicais dos Estados Unidos, que tem sede no Panamá. Os cientistas acreditam que essa inesperada mudança no padrão de crescimento das árvores pode ser um indício de modificações mais profundas em todo o ecossistema da floresta.