Nádia Faggiani
Repórter Agência Brasil
Brasília - O ministro das Relações Exteriores, Celso Amorim, telefonou hoje ao chanceler argentino Rafael Bielsa para congratulá-lo pelo fato de a Argentina ter fechado acordo com o Fundo Monetário Internacional (FMI). O acordo evitou o calote de uma dívida de US$ 3,15 bilhões do país com o organismo internacional. Segundo Celso Amorim, Bielsa demonstrou muito contentamento na maneira como o Brasil se portou em relação ao tema.
Ontem à noite, o ministro Celso Amorim conversou pelo telefone com o ministro da Economia da Argentina, Roberto Lavagna, depois de o presidente Luiz Inácio Lula da Silva ter telefonado ao presidente Néstor Kirchner. Na conversa entre Lula e Kirchner, marcada para a próxima terça-feira, no Rio de Janeiro, deve estar uma reflexão comum sobre o posicionamento dos organismos financeiros internacionais e sobre questões relativas ao comércio internacional, inclusive a Área de Livre Comércio das Américas (Alca).
"Brasil e Argentina têm posições praticamente idênticas. A conversa será mais para traçar estratégias de negociações internacionais. Os dois presidentes devem tratar de negociações relacionadas também a infra-estrutura e a projetos de interesse bilateral", destacou Amorim.
De acordo com as agências internacionais, o ministro da Economia da Argentina, Roberto Lavagna, confirmou que se comprometeu com o FMI a receber os 21 grupos de credores para iniciarem as negociações de reestruturação da dívida em calote. O encontro se dará em Buenos Aires, de 22 de março a 16 de abril. O ministro teria dito também que espera concluir as negociações entre o final de maio e início de junho.
O governo argentino e a diretora-gerente em exercício do Fundo, Anne Krueger, assinaram uma carta de intenções em que o FMI solicita a conclusão da segunda revisão do acordo. Em nota publicada hoje pelo Fundo, Krueger destaca que um progresso considerável foi feito na implementação do programa econômico aprovado pelo FMI em setembro de 2003. Diz que todas as metas quantitativas estabelecidas para o final de dezembro de 2003 foram cumpridas com margens amplas e que os objetivos para o final de março de 2004 devem ser cumpridos.
A carta de intenções assinada explica o cenário macroeconômico para 2003 e detalha as políticas estruturais que vão sustentar a recuperação atual. "O cenário macroeconômico prevê crescimento de cerca de 5,5% em 2004, maior que o originalmente previsto. A inflação deverá continuar na faixa de apenas um dígito, enquanto a posição de reservas do banco central deverá fortalecer-se ainda mais. As autoridades vão trabalhar com a assistência de bancos de investimento para criar uma agenda e um processo que vai garantir negociações significativas com todos os representantes de grupos credores. Com essa finalidade, as autoridades pretendem concluir em breve um decreto que vai dar total estatus jurídico para a nomeação de bancos de investimentos", especifica a nota do FMI.
Em entrevista coletiva nesta quarta-feira à tarde, o diretor de relações externas do FMI, Thomas Dawson, não deu maiores detalhes do acordo entre Kircher e Krueger. Segundo os jornais argentinos, Dawson limitou-se a dizer que a carta de intenções assinada propõe "um curso de ação específico" para a reestruturação da dívida externa argentina.