Milena Galdino e Nádia Faggiani
Repórteres da Agência Brasil
Brasília - O ministro das Relações Exteriores, Celso Amorim, e a prefeita de São Paulo, Marta Suplicy, assinam nesta tarde com as Nações Unidas o documento que oficializa o início dos preparativos para a 11ª Conferência das Nações Unidas para Comércio e Desenvolvimento (Unctad), que se realiza 13 a 18 de junho, na capital paulista. A cada quatro anos, a Unctad promove debates sobre as maneiras de impulsionar o crescimento econômico, especialmente nos países mais pobres.
Esta é a primeira vez que o Brasil sedia a conferência, liderando os demais países em desenvolvimento. As conclusões dos debates farão parte de um documento a ser divulgado no final do encontro. Para constar do documento, as proposições precisam ser aprovadas por unanimidade pelos países participantes.
"Naturalmente, o Brasil tem papel de liderança entre os países em desenvolvimento. Somos ativos e damos qualidade aos encontros, ao lado de outros países como México, Índia e Malásia", disse o chefe do Departamento Econômico do Ministério das Relações Exteriores, Piragibe Tarragô. Para ele, o Brasil tem capacidade para o diálogo e, por sediar e presidir a conferência, terá papel de destaque.
Um dos pontos em discussão na conferência é a redefinição da Unctad. Segundo Tarragô a agência das Nações Unidas chegou aos anos 90 com uma crise de identidade, em função da ênfase que os países desenvolvidos darem ao Acordo Geral de Tarifas e Comércio (GATT), que adota políticas liberalizantes. "A Unctad foi criada para permitir a discussão em torno de plataformas comuns e buscar termos favoráveis de transferência de tecnologia e de desenvolvimento de custos mais baratos. Para ajudar os países a formular políticas adequadas para se desenvolver. Essa reflexão vai continuar durante a conferência em São Paulo", ressaltou Tarragô.
Empresários, líderes de organizações não-governamentais, ministros de Estado e representantes dos 192 países membros são aguardados para o encontro que ocorrerá em julho no Centro de Convenções do Anhembi, em São Paulo. À frente da organização está o embaixador Rubens Ricúpero, secretário-geral da Unctad desde 1995, que teve o mandato prorrogado até meados deste ano, para poder comandar o evento.
Os desafios dos participantes são grandes: desenvolver estratégias num mundo de economias globalizadas, melhorar a capacidade competitiva e a competitividade internacional, garantir ganhos para o desenvolvimento em negociações do sistema de comércio internacional e estabelecer parcerias para o desenvolvimento. Para isso, Ricúpero acredita que é preciso formular as melhores políticas públicas, de modo a aumentar a competitividade na exportação. "Essas políticas incluem a inovação de sistemas tecnológicos, a criação ou adaptação de tecnologias, o aumento de valor agregado e mais ensino para a força de trabalho", enumera o embaixador brasileiro.
A Unctad foi criada no início dos anos 60, na tentativa de acalmar a tensão política entre os blocos comunista e capitalista e afastar as possibilidades de guerra nuclear. O papel da nova agência das Nações Unidas voltada para o desenvolvimento econômico dos países-membros era mostrar que o mundo precisava menos de armas e mais de qualidade de vida para as populações, especialmente nos países em desenvolvimento.