Discurso de senador sobre caso Waldomiro frustra oposição e irrita governistas

02/03/2004 - 16h16

Raquel Ribeiro e Ana Paula Marra
Repórteres da Agência Brasil

Brasília – Depois de movimentar o mercado ao prometer denúncias que comprovariam a ligação entre o ministro da Casa Civil, José Dirceu, e o ex-subchefe de Assuntos Parlamentares da Casa Civil Waldomiro Diniz, o senador Almeida Lima (PDT-SE) frustrou as expectativas da oposição e deixou indignados os governistas. O senador sergipano apresentou um relatório parcial de uma investigação da Polícia Federal sobre a administração das loterias estaduais e das casas de bingo, no qual Diniz é citado. Quanto ao ministro, apenas informações de agências de notícia na internet que foram anexadas ao relatório pelo delegado que conduz a investigação.

A fragilidade da denúncia levou os governistas a se revezarem na tribuna do Senado para reclamar da irresponsabilidade do senador sergipano em prometer com alarde provas dde que "Dirceu e Waldomiro não são dois mas apenas um". A líder do PT no Senado, Ideli Salvatti (SC), foi a primeira a falar e classificou a ofensiva de Lima como uma irresponsabilidade sem limites."A montanha não pariu sequer um rato. O que aconteceu aqui hoje foi tão ridículo, absurdo e fora de propósito que só podemos dizer que até a irresponsabilidade tem limites", disse.

O líder do PMDB no Senado, Renan Calheiros (PMDB-AL). expressou a dúvida que ficou no ar. "Sinceramente não entendi nada! Sugiro que o senhor volte à tribuna e fale pelo tempo que for necessário até apresentar a denúncia que anunciou", afirmou. Renan também avaliou que a iniciativa de Almeida Lima foi um "desrespeito à nação brasileira", e não passou de "uma brincadeira" que tem como objetivo impedir a tranqüilidade dos trabalhos do Congresso Nacional e prejudicar o país.

Almeida Lima ainda tentou se defender. Reclamou da ironia com a qual foi tratado pela líder petista e insistiu na defesa de que suas denúncias eram gravíssimas. "Será que estou falando inglês? Será que falo outra língua? O ministro chegou a ligar para o secretário de Segurança do Rio de Janeiro, Anthony Garotinho, para tentar impedir esta investigação que revelei!", afirmou. O líder peemedebista usou a palavra para dizer que Garotinho entrou em contato com o senador Sérgio Cabral (PMDB-RJ) e desmentiu ter recebido ligações. Sem ter quem o defendesse, as críticas a Almeida Lima continuaram.

Até agora discreto, concentrado em defender o governo, o líder do governo no Senado, Aloízio Mercadante (PT-SP) subiu à tribuna para defender pessoalmente o ministro Dirceu. "O ministro tem 40 anos de história, foi um guerrilheiro, lutou pela democracia. Eu o conheço há 24 anos para ver alguém subir aqui e fazer denúncia com tamanha superficialidade. O direito de vossa excelência de escolher e de falar foi ele um dos que garantiu", disse. Mercadante chegou a bater na tribuna e alertou Almeida Lima de que o constrangimento pelo qual passa hoje é fruto de sua inexperiência. "Para que isso, senador? O senhor é um senador em primeiro mandato e espero que isso lhe tenha servido de lição".

Do lado da oposição, nenhum nome surgiu para defender Almeida Lima. O líder do PDT no Senado, Jefferson Perez (RJ), usou a tribuna para alertar sobre a gravidade da negligência do Palácio do Planalto em saber que investigações estavam sendo feitas e aproveitou para pedir a instalação da CPI Waldomiro, apelo feito também pelos líderes Arthur Virgílio (PSDB-AM) e José Agripino (PFL-RN).