Ambev comunica ao presidente Lula fusão com cervejaria belga

02/03/2004 - 18h29

Gabriela Guerreiro e Nelson Motta
Repórteres da Agência Brasil

Brasília - A Ambev comunicou hoje ao presidente Luiz Inácio Lula da Silva a intenção de se unir à cervejaria belga Interbrew. A fusão pode resultar no surgimento da segunda maior companhia fabricante de cerveja do mundo. Segundo o presidente da Ambev, Victorio Carlos de Macchi, o anúncio oficial da fusão será feito amanhã, em São Paulo, mas a empresa decidiu comunicar ao presidente em primeira mão depois de ter informado a decisão aos mercados.

Macchi garantiu que a fusão não vai prejudicar o mercado interno. Ao contrário. Ele fez questão de enfatizar que a Ambev vai continuar sendo "uma grande multinacional brasileira", expandindo apenas as suas atividades para a América do Norte, Europa e Ásia - onde a Interbrew domina o mercado. "O que vai haver na realidade é uma complementariedade de empresas. Nós informamos ao presidente das nossas pretensões e, na minha percepção, (ele) ficou satisfeito", revelou.

Segundo Macchi, as manifestações do presidente Lula sempre foram no sentido de incentivar a expansão das empresas brasileiras para o exterior. "Na minha visão ele achou a operação extremamente importante ao país. Eu acompanhei o presidente em mais de uma viagem ao exterior e as manifestações dele sempre foram no sentido de que as empresas brasileiras devem ser agressivas, devem ter ideal de expansão para o exterior, não ter medo de se expandir para o exterior", disse.

A intenção da Ambev é comunicar a fusão ao Conselho Administrativo de Defesa Econômica (Cade) nos próximos 15 dias. Victorio de Macchi revelou estar otimista sobre a aprovação da união entre as empresas belga e brasileira pelo Conselho. "Vamos manter todas as nossas posições aqui, e com o crescimento do país isso sem dúvida gerará muitos empregos", disse.

Sobre o suposto vazamento de informações durante o período de negociações entre a Ambev e a Interbrew, que teriam beneficiado a empresa brasileira, Victorio de Macchi admitiu que isso pode ter ocorrido de fato. "Realmente vazaram algumas informações, algumas com um certo fundamento, outras usando-se naturalmente muita criatividade", disse. As especulações sobre o vazamento motivaram a Comissão de Valores Mobiliários (CVM) a abrir processo de investigação para apurar se houve uso de informação privilegiada nas negociações. A CVM decidiu investigar depois de constatar significativas altas dos papéis da cervejaria brasileira na Bolsa de Valores de São Paulo.

O presidente da Ambev, porém, disse que a empresa atendeu a todas as exigência da Comissão, repassando ao longo das negociações todas as informações necessárias sobre a fusão. "Nós atendemos a todas as exigências da CVM comunicando cada passo que nós estávamos dando a partir desse vazamento, comunicando a verdade dos fatos", enfatizou.

Victorio de Macchi não quis adiantar números que envolvem a fusão, nem mesmo suas expectativas sobre os empregos que serão gerados com a medida. Ele se limitou a afirmar que a fusão "só foi possível porque o país mantém uma política de estabilidade e uma perspectiva de crescimento muito grande". Caso a fusão seja aprovada, a nova cervejaria vai reunir ativos da ordem de US$ 27 bilhões e uma produção de 164 milhões de hectolitros de cerveja.