Kirchner quer o apoio de Lula para negociar dívida com o FMI

01/03/2004 - 16h28

Nádia Faggiani
Repórter da Agência Brasil

Brasília - O encontro do presidente Luiz Inácio Lula da Silva com o presidente argentino, Néstor Kirchner, no próximo dia 10 de março, em São Paulo, será uma oportunidade para Kirchner enfatizar o pedido de apoio ao presidente brasileiro nas negociações com o Fundo Monetário Internacional (FMI). O teor de seu discurso deverá ser o mesmo empregado na tarde de hoje em Buenos Aires, durante a inauguração do ano legislativo no Congresso Nacional, quando enfocou a negociação da dívida pública em 'default'.

Néstor Kirchner afirmou que a Argentina não pagará a dívida às custas da fome e da exclusão de milhões de argentinos, gerando mais pobreza. "Não se trata de ideologias nem de inflexibilidade ou como queiram chamar. Trata-se de uma fria e racional leitura dos números e da economia. Trata-se de assumir com realismo o que a situação indica. O irracional é o tamanho de nossa dívida", disse Kirchner.

O presidente argentino declarou que não pode aumentar o volume de recursos milagrosamente. O FMI exige que o país melhore sua proposta de reduzir em 75% sua dívida de US$ 81 bilhões. A diretoria do Fundo deve se reunir nos próximos dias para avaliar se irá aprovar as metas de um acordo firmado entre o organismo e o governo argentino.

Em seu discurso, Kirchner apontou a dívida, a pobreza e o desemprego - que já atinge 16,3% da força de trabalho do país - como os principais desafios de seu governo. Ele afirmou que não existe país viável com 55% da população vivendo abaixo da linha da miséria, mesmo com um crescimento recorde de 8,4% que a economia do país alcançou em 2003.

Durante o encontro do Grupo dos Quinze (G-15), realizado em Caracas, na semana passada, o chanceler argentino Rafael Bielsa considerou o acordo entre Argentina, Brasil e Venezuela, por uma postura comum frente ao FMI, "um episódio histórico". Faltando oito dias para o vencimento de uma parcela da dívida, o pedido de apoio aos deputados e senadores para a fase crucial de negociação com o FMI foi fortalecido pelo apoio do G-15 e pela aliança com o Brasil.