Quarto trimestre de 2003 confirma reaquecimento da economia, segundo Planejamento

27/02/2004 - 12h47

Brasília, 27/2/2004 (Agência Brasil - ABr) - O Ministério do Planejamento divulgou nota técnica para mostrar que, apesar da retração da economia de 0,2% no ano passado, anunciada hoje pelo IBGE, o quarto semestre confirmou a recuperação iniciada no semestre anterior, quando o PIB registrou a primeira taxa positiva (0,1%) do ano. O PIB de 2003 foi o pior desde 1992.

Para justificar a recuperação, os técnicos recorrem aos dados do IBGE que mostram que o PIB a preços de mercado, com ajuste sazonal, cresceu 1,5%, em relação ao trimestre anterior, com os seguintes desempenhos setoriais: agropecuária 7,3%, indústria 1,2% e serviços 0,8%.

Segundo os técnicos, comparando-se componentes da demanda agregada, o investimento cresceu 4,0%, confirmando a expansão iniciada no 3º trimestre de 2003, após queda superior a 4,5% no primeiro semestre.

O mesmo ocorreu com o consumo das famílias que cresceu 1,6% no quarto trimestre em relação ao terceiro, e o do governo, 0,1%.

Esses indicadores, segundo o Planejamento, é que apontam para a recuperação da economia, junto com a balança comercial, que registrou exportações de bens e serviços, de 5,5%, e importações de 8,3%, com destaque para a compra de máquinas, equipamentos e insumos industriais.

O resultado do IBGE mostra ainda que na comparação com o último trimestre de 2002, o PIB a preços de mercado, com ajuste sazonal, caiu em relação ao último trimestre de 2002 (-0,1%).

Para os técnicos do Planejamento, esse resultado foi, sobretudo, determinado pela alta base de comparação: a taxa de crescimento do PIB no 4º trimestre de 2002 foi de 3,9%.

Em termos setoriais, a agropecuária cresceu 4,8%, a indústria teve queda de 1,7% devido à construção civil que caiu 11,1% em relação ao último trimestre de 2002; e os serviços expandiram-se 0,3%.

Dentre os componentes da demanda agregada, as exportações cresceram 10,1% e as importações 10%. O consumo do governo expandiu 0,7%. Os investimentos declinaram 5,0% devido à queda de 11,1% na construção civil. E o consumo das famílias registrou novamente retração (-0,6%).

Para os técnicos do Planejamento, no entanto, cabe notar "que a taxa negativa de variação do consumo das famílias foi menor do que as taxas dos três trimestres anteriores. –3,0% no primeiro; -6,0% no segundo; e –3,7% no terceiro trimestre de 2003, em relação aos mesmos trimestres de 2002".

Além disso, o documento afirma que tal diminuição no ritmo de queda do consumo familiar reflete as medidas anticíclicas tomadas pelo governo desde junho de 2003: crédito às famílias de baixa renda, microcrédito, queda das taxas de juros ao consumidor e crédito em consignação com desconto na folha de pagamento.

Quanto à retração da economia de 0,2% em relação a 2002, para os técnicos, em termos de valor adicionado a preços básicos, o PIB manteve-se no mesmo patamar de 2002 e a queda de 0,2% explica-se pela diminuição de 1,7% nos impostos sobre produtos.

Esse declínio no volume dos impostos sobre produtos reflete o baixo dinamismo de setores com maior incidência de impostos: produtos minerais não metálicos, farmacêuticos, artigos de plásticos, industrias do vestuário e de bebidas.

Houve, também, declínio de 5,6% no volume de impostos associados às importações. Em termos setoriais, a indústria caiu 1,0%, determinada pela queda de 8,6% da construção civil.

A indústria de transformação, apesar de só ter se expandido 0,7% em 2003, apresentou comportamentos bastante díspares em termos de gêneros industriais. A indústria mecânica cresceu 8,9%, a metalúrgica 4,5% e a extrativa mineral 2,4%.

Em contrapartida, a indústria farmacêutica caiu 18%, a de vestuário e calçados 12,5%, a têxtil, 6,9% e produtos alimentares 2,7%.

Entre os países que enfrentaram crises cambiais, o Brasil também está em melhor situação quanto ao crescimento da economia, na ótica dos técnicos do Planejamento. Enquanto houve uma retração 0,2% aqui, na Argentina chegou a 11%, na Rússia a 4,9% e no México a 6,2% após as crises.

"Na verdade isso mostra que existe algo de forte na economia brasileira e que a torna mais resistente", afirma José Carlos Miranda, chefe da assessoria econômica do Ministério do Planejamento.

Para o Planejamento, quando se analisa o comportamento da atividade industrial em 2003, a partir dos índices de média móvel trimestral, há uma assimetria de comportamentos semestrais.

"É importante notar uma revolução no chão das fábricas. Há um esforço dos empresários pela eficiência na produtividades que neutraliza o impacto dos juros altos", justifica Miranda. Otimista, ele estima que no primeiro trimestre o PIB cresça 2%.

"Durante o primeiro semestre de 2003 há um recuo de 3,7% no nível de produção, enquanto, no segundo semestre, há uma expansão de 5,7%, movimento que é acompanhado por praticamente todas as categorias de uso. A agropecuária em 2003 expandiu-se 5,0%, muito influenciada pelo dinamismo das exportações", mostra a nota.

Os serviços também se mantiveram estáveis (-0,1%) em reação a 2002. Sob a ótica da demanda, o crescimento de 14,2% das exportações, capitaneou o resultado de 2003. O consumo das famílias cresceu 0,6%; e a formação bruta de capital caiu 6,6%, devido ao desempenho da construção civil (-8,6%).

Por fim, os técnicos assinalam dois fatos relevantes. Primeiro, tomando-se a série encadeada do índice trimestral (média de 1990 = 100), o PIB a preços de mercado do no quarto trimestre de 2003 é equivalente ao do mesmo trimestre do ano anterior (134,7). Vale dizer que o PIB de 2003 manteve-se praticamente estável.

Segundo, tornando-se o PIB semestral de 2003, nota-se que ele cai 1,69% no primeiro semestre, e eleva-se 1,60% no segundo. Essa assimetria nos comportamentos semestrais do PIB só não é tão acentuada como na indústria de transformação devido às quedas dos setores de construção civil e serviços tanto no primeiro como no segundo semestre.