Embrapa estuda perereca que pode ajudar a curar Mal de Chagas

20/02/2004 - 13h49

Brasília, 20/2/2004 (Agência Brasil - ABr) - Uma esperança contra a doença de Chagas surge na pele da perereca Phyllomedusa oreades, ainda sem nome popular, recém descoberta no Cerrado pelo pesquisador do Ibama Reuber Brandão. Estimativas indicam que em todo o mundo são 18 milhões de pessoas infectadas pela doença, 4 milhões só no Brasil.

Uma equipe de pesquisadores da Embrapa estuda a dermaseptina, uma substância encontrada na pele da perereca e que age contra o protozoário Trypanosoma cruzi, transmissor do mal de Chagas. Até agora, as experiências se restringiram ao laboratório e a substância matou o protozoário sem atingir o sangue humano.

Brandão diz que o trabalho ainda está no início, mas a expectativa é grande. "A pesquisa abre uma boa perspectiva para se chegar a um medicamento contra a doença num futuro próximo. Ainda é preciso outros estudos para se obter conhecimento sobre como a dermaseptina, atua eliminando o Trypanosoma cruzi", explica.

Chefiada pelo professor Carlos Block, a pesquisa já foi publicada no Journal of Herpetology. Brandão lembra que a devastação do Cerrado ocorre de forma progressiva e rápido e é necessário impedir esse crime ecológico. "O que esse trabalho está mostrando é que a biodiversidade brasileira é muito rica e nós precisamos aprender a usar melhor seus recursos. O desmatamento do Cerrado está acontecendo de maneira muito rápida e muitos recursos naturais, que poderiam estar sendo utilizados como remédios, estão se perdendo" alerta o pesquisador.

Doença de Chagas

O nome da doença de Chagas é uma homenagem ao cientista e médico brasileiro Carlos Chagas, descobridor do agente causador e da sua forma de transmissão. Endemia rural, infesta grande parte da América Central e do Sul.

Ao picar uma pessoa, o barbeiro defeca e elimina suas fezes contaminadas. Ao coçar o local da picada a pessoa espalha as fezes do inseto sobre o ferimento. Dessa maneira, os parasitas penetram na pele, atingindo a circulação sanguínea. Nessa etapa, chamada de fase aguda, não há manifestação de sintomas, mas algumas pessoas apresentam febre alta. Não sendo diagnosticada na fase aguda, quando ainda tem cura, a doença se torna crônica. Os trypanossomos instalam-se nos músculos humanos, especialmente no coração. Ao atingir e destruir fibras musculares, provocam insuficiência e arritmia cardíaca, que podem levar à morte. O sistema digestivo também pode ser afetado.

O nome Phyllomedusa é o gênero a que pertence a perereca. Já oreades foi escolhido pelo pesquisador Ruber Brandão em homenagem ao Cerrado, que recebeu este nome do pesquisador alemão Carl Friedrich Philipp von Martius. Ele esteve no Brasil no final do século 18 e fez a primeira tentativa de classificação da vegetação nacional. Para o Cerrado, von Martius escolheu o nome oreades, que são as ninfas dos campos e montanhas da mitologia grega.

A Phyllomedusa oreades é encontrada em regiões com altitudes superiores a 900 metros como a Chapada dos Veadeiros, na Serra dos Pirineus, nas partes altas da Serra da Mesa e no Distrito Federal.

Rosamélia de Abreu