Brasileiros no Haiti preocupados com o avanço da Frente de Resistência

20/02/2004 - 12h01

Milena Galdino
Repórter da Agência Brasil

A guerra civil já deixou 55 mortos e centenas de feridos no Haiti desde seu início, em 5 de fecereiro. As vilas e cidades do norte foram rendidas pelo movimento rebelde Frente de Resistência Artibonite, que exige a renúncia do presidente Jean Bertrand Aristide e o acusa de corrupção, responsabilizando-o pelo mau uso das doações feitas pela comunidade internacional. Em Porto Príncipe, apesar de a Frente ainda marcar horários e locais para as manifestações contrárias ao governo, a população acredita que conflitos mortais com a polícia serão inevitáveis, apenas uma questão de tempo.

No Palácio do Itamaraty, em Brasília, a maior preocupação é com os 28 brasileiros residentes no país. A maioria são freiras que estão por lá há muitos anos, trabalhando em missões sociais da Cáritas católica e de outras organizações não-governamentais. Há, também, jogadores de futebol e comerciantes como Djarí Theófilo Bezerra, 37 anos. Ele conta que a guerra civil no Haiti – onde 80% dos 7,5 milhões de habitantes vivem abaixo da linha de pobreza e o índice de desenvolvimento humano, segundo a ONU, é um dos menores do mundo – castiga ainda mais a já sofrida população.

"Água na torneira e energia elétrica já são raros aqui até em tempos de paz, mas dá para notar um acúmulo anormal de lixo nas ruas e a tensão da polícia", reclama, por telefone, à Agência Brasil. Djarí tem contato com a maior parte dos brasileiros residentes na capital, e afirma que eles estão preocupados com o agravamento da desordem. "Mesmo assim, aqui na capital, ainda há como se desviar dos lugares onde há focos de enfrentamento entre a polícia e os rebeldes", comenta o comerciante, que está fora do Brasil há oito anos, mas torce para rever a filha que deixou no Ceará.

Até agora, o Ministério das Relações Exteriores apenas monitora a guerra civil do Haiti, com informações enviadas em tempo real pela embaixada em Porto Príncipe, que funciona normalmente desde o início das manifestações. Segundo fontes diplomáticas, a possibilidade de se repetir o gesto tomado durante a crise da Bolívia, no ano passado, quando aviões militares retiraram os brasileiros do território, ainda não pode ser descartada.

Se no Brasil essa é uma entre muitas hipóteses, nos Estados Unidos o governo sugere aos cidadãos americanos que estão na ilha que deixem o lugar enquanto o aeroporto opera vôos comerciais. Nesta quinta-feira, os pedidos de socorro emitidos desde o início de fevereiro pelo presidente haitiano finalmente tiveram resposta: os EUA decidiram enviar ajuda humanitária de U$ 530 mil à pequena e turbulenta ilha, que já foi dominada por espanhóis, franceses e norte-americanos.

No dia anterior, o Comitê Internacional da Cruz Vermelha entregou uma tonelada de material cirúrgico à cidade de Gonaives, tomada pela Frente de Resistência Artibonite. Também receberam kits e pessoal médico as cidades de Cabo Haitiano, Jacmel e Porto Príncipe, a capital do país.

Estados Unidos, França e Canadá, além de organismos multilaterais como Nações Unidas (ONU), Organização dos Estados Americanos (OEA) e Comunidade do Caribe (Caricom), tentam costurar uma comissão internacional que pode servir de mediadora entre a oposição e o governo.

Com agências internacionais