Brasília, 11/2/2004 (Agência Brasil - ABr) - O Cerrado cobre um quarto da superfície total do Brasil e é composto por vegetações distintas, que engloba, por exemplo, mais de 6 mil espécies de arbóreas e 4,7 mil herbáceas. Dentro desta flora única - de casca grossa, raiz profunda e resistente ao fogo - e muito antiga (são quase 30 milhões de ano), vive uma fauna de 70 mil espécies de animais.
Dentro desse universo, o professor Jader Marinho Filho, do Departamento de Zoologia da Universidade de Brasília (UnB), estuda há mais de 15 anos a Conservação de Mamíferos do Cerrado. Parte de sua pesquisa foi apresentada, ontem no XXV Congresso de Zoologia, na UnB, que termina na 6ª feira (13).
Marinho Filho e sua equipe estudaram e monitoraram 215 espécies de mamíferos, entre onças pintadas, pardas, morcegos, lebres e capivaras - o que representa 40% da fauna nacional e 5% do total de espécies do mundo, que vivem nas florestas (30%) e matas abertas (16%).
Resultados: 18 espécies são específicas do cerrado; 16 estão ameaçadas de extinção; 92 espécies de morcegos
A riqueza de espécies e as características do Cerrado, que segundo o professor não têm o apelo exótico das florestas tropicais, esbarram num grande problema: como conservar esta extensa área e suas espécies? "Quase 80% do Cerrado já foi alterado pela atividade humana e apenas 20%, pode ser considerado ainda virgem", alerta Marinho. Segundo ele, os programas de desenvolvimento do bioma - que começaram no governo do ex-presidente Fernando Henrique Cardoso e continuam na gestão Lula - querem substituir a região por lavouras de grãos (principalmente, soja). Além disso, a caça por subsistência e as demandas energéticas (construção de hidrelétricas), que levam ao desamamento e retaliação por grupos de vinganças, são problemas graves na região Centro-Oeste que ameaçam a conservação da fauna do Cerrado.
O estudo para Conservação de Mamíferos do Cerrado - desenvolvido em parceria de alunos da UnB, de empresas e de órgãos do governo como Furnas Centrais Elétricas, Fundação Nacional de Arte (Funarte), Conselho Nacional de Desenvolvimento Científico e Tecnológico (CNPq), entre outros - ultrapassou as barreiras da universidade e já é discutido por outros meios científicos, organizações não-governamentais (Ong's), empresas particulares e do governo.
A conscientização está em construção, mas Marinho Filho reclama que "esbarramos em interesses econômicos e na necessidade constante dos nossos governantes em inserir o Brasil em cenários de competição e desenvolvimento econômico". (UnB Agência)