São Paulo, 9/2/2004 (Agência Brasil - ABr) - Os policiais militares envolvidos na morte do dentista Flávio Ferreira Sant’Ana ficarão detidos por 30 dias no Presídio Militar Romão Gomes, na capital paulista. Investigação preliminar da Corregedoria da Polícia Militar aponta o tenente Carlos Alberto de Souza Santos, e o soldado Luciano José Dias, como os responsáveis pela morte do dentista, negro, de 28 anos.
Os outros policiais, o cabo Ricardo Rivera e os soldados Deivis Júnior Lourenço e Ivanildo Soares da Cruz, teriam ajudado a alterar a cena do crime, colocando junto ao corpo de Flávio, uma arma. No 13º Distrito Policial, eles disseram, no boletim de ocorrência, que o dentista teria reagido à prisão e revidado com tiros.
Outro policial, que não teve o nome divulgado, está na Corregedoria da PM, em prisão administrativa por cinco dias. Ele teria ameaçado o comerciante Antônio Alves dos Anjos, de 29 anos, vítima de um assalto, a contar a "versão" que interessava ao grupo de policiais.
Na última terça-feira (3), Flávio deixou sua namorada no Aeroporto Internacional de Cumbica, quando foi abordado por policiais. Na versão do comerciante, o dentista seria o assaltante, que, mesmo desarmado, não teve tempo de se identificar e levou dois tiros no peito, morrendo no local.
Momentos depois de ver o corpo, o comerciante percebeu que havia se enganado. Flávio não era o homem negro que teria fugido após o assalto.
No sábado, o comerciante Antônio Alves dos Anjos, prestou novo depoimento à Polícia Civil, confirmando que Flávio não era o assaltante. Ele disse que se omitira durante o registro do caso no boletim de ocorrência por medo de represália dos PMs envolvidos.
O ouvidor das polícias do estado de São Paulo, Itajiba Cravo, disse à Agência Brasil esperar punição exemplar, adiantando que os dois dos policiais presos estão sendo investigados por ocorrências com morte de civis, repetindo o mesmo procedimento de "maquiar" as mortes.
O comandante-geral da Polícia Militar, coronel Alberto Silveira Rodrigues, afirmou que a polícia investiga a razão do comerciante mudar seu depoimento e que procura por provas que comprovem a participação dos policiais. Ele informou que esteve com familiares do dentista assassinado, que pediram que a justiça seja feita, com os responsáveis punidos pelo crime.
No ano passado, 673 policiais da PM foram demitidos ou expulsos por crimes de extorsão, violência contra a pessoa, corrupção, indisciplina, crimes contra a administração pública, entre outros. Na comparação com 2002, houve um aumento de 77,6 % do percentual de crimes cometidos por policiais.