Brasília, 3/2/2004 (Agência Brasil - ABr) - Depois que o presidente Luiz Inácio Lula da Silva foi a Genebra convidar o secretário-geral da ONU (Organização das Nações Unidas), Kofi Anan, e os presidentes da França, Jacques Chirac, e do Chile, Ricardo Lagos, a assumirem uma aliança global contra a forme, é a vez do ministro dos Negócios Estrangeiros da França, Dominique de Villepin, vir ao Brasil estreitar os laços entre os dois países.
Dominique de Villepin chega a Brasília nesta terça-feira à noite. É a primeira vez que vem ao Brasil como ministro, seguindo um roteiro de visitas a outros três países da América Latina. A relação entre França e Brasil é histórica e tem se estreitado no governo Lula, na opinião do conselheiro da Embaixada da França no Brasil, David Izzu. "O que faz essa relação ser mais útil no âmbito internacional é a nova atuação da diplomacia brasileira com o presidente Lula no cenário internacional", afirma Izzu.
Na avaliação do Ministério das Relações Exteriores, o governo Lula tem se destacado pela exploração de parcerias comerciais não tradicionais, como África do Sul, Oriente Médio e Índia e pela intensificação acentuada de parcerias já tradicionais como a Europa. "Podemos dizer que o Brasil pode ser considerado a bola da vez dos franceses. Não só pelos diversos encontros realizados entre o presidente Lula e representantes do governo francês, desde o início do ano passado, como pela visita de dois dias ao Brasil do ministro Dominique de Villepin ", ressalta o chefe de Divisão da Europa I do Ministério das Relações Exteriores, ministro João Inácio.
Segundo o ministro, existe um reconhecimento crescente de que o Brasil é um ator importante da política internacional e tem sido alvo de interesse de países europeus. Após a posse do presidente Lula, já estiveram em visita ao Brasil representantes do governo espanhol, alemão, norueguês e finlandês. Para março, está prevista uma cimeira entre Brasil e Portugal com a presença do presidente português, Jorge Sampaio.
O encontro do ministro Dominique de Villepin com o presidente Luiz Inácio Lula da Silva será às 17h30, nesta quarta-feira, em Brasília. Logo cedo,o ministro francês se encontra com intelectuais brasileiros e segue para o Instituto Rio Branco, onde fará um discurso sobre a América Latina e a Nova Ordem Internacional.
O ministro francês falará ainda sobre as relações bilaterais, desafios do mundo contemporâneo, multipolaridade e organização mundial, após a formação do bloco G-20.
O fato de o Brasil assumir em 1° de janeiro deste ano como membro do Conselho de Segurança da ONU é uma forma de aproximação entre os dois países. "Nossa relação tem de ser permanente. Temos que confrontar idéias quase que de maneira cotidiana. O fato do Brasil ser criador do G-20 e incentivar o combate a fome também o torna um país importante para a França", diz o conselheiro da Embaixada da França no Brasil, David Izzu.
A reforma da ONU, a abertura do Conselho de Segurança para outros países e temas urgentes como a crise do Iraque são assuntos que devem ser tratados entre os chanceleres dos dois países e o presidente Lula. França e o Brasil têm demonstrado similaridades de idéias, como o interesse pela ampliação do Conselho de Segurança da ONU e pela construção de um Iraque unido, em paz com os vizinhos e democrático. "A atual presença do Brasil como membro não- permanente do Conselho de Segurança gera interesse nos outros países em saber como será a atuação brasileira", diz o ministro do Ministério das Relações Exteriores, João Inácio.
Investimento
Além da forte expressão cultural identificada nos dois países e que gera importante intercâmbio de artistas, a aproximação entre Brasil e França se destaca no comércio bilateral. A Europa é o primeiro comprador e investidor do Brasil, sendo a França o quarto maior investidor, em 2003. De acordo com a Embaixada da França, as maiores empresas francesas estão no Brasil, sendo mais de 250 instaladas no país e mais de 240 mil funcionários brasileiros empregados nas filiais.
Os segmentos de maior investimento são eletricidade, automóveis - onde se destacam as empresas Renoult e Peugeot -, hotéis, clubes, produção de aço, bancos, e aviação, onde se destaca a parceria entre a francesa Dassault e a brasileira Embraer.
Se não bastasse, o país europeu é o sexto maior vendedor de produtos para o Brasil e o 12° comprador de bens brasileiros. Ano passado, o volume de comércio chegou a aproximadamente US$ 3,5 bilhões. A vantagem, apesar de pequena, é francesa. Em 2003, acumulou superávit de quase US$ 400 milhões.
Entre os assuntos bilaterais que a França vai tratar com o Brasil, está a construção de uma ponte sobre o rio Oiapoque, através da Guiana Francesa, maior fronteira entre os dois países. Brasil e França consideram a ponte importante para o desenvolvimento do Amapá e da própria Guiana Francesa.
A visita do ministro francês também servirá para dar segmento ao encontro de Genebra, quando foi lançado o Programa Mundial de Combate à Fome. Um grupo de trabalho formado por especialistas brasileiros e franceses vai examinar a forma de financiamento do fundo e apresentar um relatório em setembro, em um evento específico durante a próxima Assembléia Geral das Nações Unidas.
O presidente Lula já esteve várias vezes na França, o que tem contribuído para intensificar as relações bilaterais com o Brasil. Em 2003, Lula esteve diversas vezes com o presidente Jacques Chirac, a primeira delas quando assumiu o governo em janeiro passado.
Desde junho, os dois presidentes vinham discutindo o lançamento do programa de combate à fome. Outros vários encontros bilaterais foram realizados entre os ministros das Relações Exteriores dos dois países.
Na tarde desta quarta-feira, o ministro francês almoça com o ministro brasileiro das Relações Exteriores, Celso Amorim, concede entrevista coletiva e em seguida encontra-se com o ministro da Cultura, Gilberto Gil, com o qual tratará de um evento na França em homenagem à cultura brasileira. Estão previstas, inicialmente, programação em museus, cidades, teatros e salas de concerto francesas.
América Latina
Antes de vir ao Brasil, o ministro francês viajou ao Chile e Argentina. O último encontro após deixar o Brasil será com o ministro das Relações Exteriores do México. O interesse da França pela América Latina é antigo, devido aos enormes investimentos feitos na região nos últimos anos.
Na opinião do chefe de Divisão da Europa I do Ministério das Relações Exteriores, ministro João Inácio, é uma região que representa novidades e reflete oportunidades econômicas e políticas. "A América Latina é uma região que diplomaticamente tem pesado sobretudo na integração física, por meio de projetos de infra-estrutura viária e telecomunicações. É uma integração política que tem gerado uma coesão maior, com muito esforço diplomático do Brasil, em particular", destaca o ministro.