Delegada descarta hipótese de estudante ter provocado a própria morte

03/02/2004 - 17h31

Rio, 3/2/2004 (Agência Brasil - ABr) - Tortura, homicídio e omissão de socorro. Essa é a principal linha de investigação da Corregedoria de Polícia para esclarecer a morte do estudante Rômulo Batista de Melo, 21 anos, que morreu seis dias depois de ter sido preso em Cabo Frio.
Durante depoimento na audiência pública realizada pela comissão de Defesa dos Direitos Humanos da Alerj, a delegada Tatiana Vieira Maciel Cardoso Losch, da Corregedoria, afirmou que a versão de autolesão, levantada pelo delegado José Mário Omena, exonerado após o crime, não está descartada, mas que as chances do estudante ter provocado a própria morte são remotas.

A delegada afirmou que o depoimento do preso Paulo César, que estava sendo transferido junto com o estudante no mesmo camburão, nada acrescentou às investigações, ao contrário do depoimento de uma presa, cuja identidade não revelou, para não prejudicar as investigações, que deverão estar concluídas em 30 dias. "Estamos reunindo todas as provas para esclarecer o que aconteceu. Temos que analisar as lesões para saber o que provocou a morte. Uma coisa é certa, houve omissão de socorro", disse.

Segundo o presidente da Comissão, deputado Alessandro Molon (PT), duas hipóteses serão analisadas: a de Rômulo ter sido agredido por presos e a de agressão por policiais. De qualquer forma, porém, de acordo com Molon, "os policiais têm responsabilidade no caso, seja pelo homicídio ou por conivência".

Molon disse que a comissão exigirá rigor na apuração dos fatos e que vai pressionar as autoridadess, não só para punir quem for responsável pelo homicídio, mas também os responsáveis por todas as irregularidades ocorridas no caso.

O advogado da família, Jayme Figueiro, alegou que o estudante estava sendo dopado indevidamente. Ele disse ainda que, ao procurar o Ministério Público de Cabo Frio para informar o ocorrido, não foi atendido pois todos estavam envolvidos com a Cabofolia, evento realizado na semana da prisão de Rômulo. Figueiro foi o último a ter contato com o rapaz, que saiu de Cabo Frio por volta de 11h e, aproximadamente às 15h, deu entrada no Hospital Municipal Conde Modesto Leal, em Maricá, com traumatismo craniano.

A mãe da vítima, Márcia Mello, que esteve com o estudante na delegacia de Cabo Frio, afirmou que havia alguns arranhões no corpo de Rômulo e um corte na cabeça que não parava de sangrar. Segundo ela, ao ser questionado pelo corte, Rômulo afirmou ter caído ao tomar banho. Ela garante que o filho estava lúcido, porém com muito medo e se sentia pressionado. "Ele me pediu para que o tirasse dali, pois se passasse mais uma noite lá morreria", contou. O delegado afastado de Cabo Frio, José Mário Omena, não compareceu à audiência pública e não justificou a ausência.

Na próxima quinta-feira, chegará ao Rio uma comissão formada por representantes do Governo Federal para acompanhar o caso.