Londres - O diretor-geral da BBC, Greg Dyke, renunciou ao cargo nessa quinta-feira, um dia depois de a empresa ter sido criticada em um inquérito sobre as circunstâncias da morte do cientista David Kelly.
Pouco depois, o presidente interino da BBC, Richard Ryder, pediu desculpas "sem restrições" por erros na reportagem sobre armas de destruição em massa no Iraque. Ryder substitui Gavyn Davies que renunciou na quarta-feira.
Dyke será substituído pelo atual vice diretor-geral da BBC, Mark Byford - diretor da Global News Division, divisão da BBC que engloba o Serviço Mundial e a TV BBC World.
A decisão foi anunciada depois de uma reunião do conselho administrativo da BBC convocada para analisar a crise causada pela publicação do relatório do inquérito.
O pedido de desculpas foi feito depois que o gabinete do primeiro-ministro Tony Blair afirmou que a BBC devia um pedido formal de desculpas por transmitir uma "alegação falsa".
Ryder disse: "A BBC precisa agora seguir adiante depois do inquérito Hutton, que destacou graves falhas nos mecanismos e procedimentos da Corporação. Em nome da BBC, eu não hesito em pedir desculpas sem restrições por nossos erros e aos indivíduos cujas reputações foram afetadas por eles".
No relatório, o ex-juiz Brian Hutton, que presidiu a investigação do Caso Kelly, disse que a BBC falhou ao permitir que uma reportagem que acusava o governo de "apimentar" um dossiê sobre o programa de armas do Iraque fosse ao ar sem que tivesse sido lida pelos editores.
Ao sair da reunião, Dyke disse esperar que a sua renúncia e a do diretor do conselho administrativo, Gavyn Davies, assim como a retratação que ele próprio havia feito na quarta-feira "pusessem um fim a todo esse episódio".
Dyke havia pedido desculpas pela interpretação que o repórter da BBC Andrew Gilligan fez das declarações de David Kelly, o cientista que serviu de fonte à reportagem e que foi encontrado morto em meio à polêmica causada pela acusação.
No entanto, Dyke sustentou que o público tinha o direito de saber a visão de Kelly, que concedeu a entrevista sem autorização, sobre o dossiê de armas do Iraque.
Controle externo
O serviço eletrônico da BBC em português afirma que a saída do diretor-geral e do presidente do conselho administrativo deixa a empresa exposta no momento em que se discute a necesssidae de um controle externo da BBC.
A secretária da Cultura do governo britânico, Tessa Jowell, disse que o resultado do inquérito Hutton será considerado em uma revisão do estatuto da BBC em 2006.
Uma pesquisa feita pelo instituto de pesquisa NOL e publicada no jornal Evening Standard indica que 56% dos britânicos acreditam que foi injusto a BBC ter recebido a maior parte da culpa no relatório de Hutton.
A pesquisa também revelou, segundo a CNN, que 49% dos entrevistados acreditam que o relatório está encobrindo algo.
A CNN informa ainda que os jornais britânicos também reagiram com incredulidade ao relatório, questionando a quem a justiça realmente serve. Na primeira página da edição de ontem, o Daily Mail estampava a palavra Justiça seguida de um ponto de interrogação.A reportagem diz que o relatório presta um grande desserviço aos britânicos, quando deixa de considerar as virtudes da BBC e ao mesmo tempo em que não considera as práticas ruins do governo.
Já a oposição pediu um inquérito independente para avaliar se o governo britânico tinha justificativa para levar o país à guerra contra o Iraque.
Além disso, Hutton deverá ser chamado pelo Comitê da Administração Pública, que está conduzindo uma investigação sobre o papel de inquéritos no governo.
As informações são da CNN e da Rádio BBC