São Paulo, 28/1/2004 (Agência Brasil - ABr) - A indústria de transformação está otimista e aposta em uma reativação, ainda que lenta, da economia. Segundo levantamento da Fundação Getúlio Vargas, 58% dos empresários prevêem melhoria nos negócios nos próximos seis meses. Apenas 6% acreditam na piora. No curto prazo, a expectativa é de uma retomada cautelosa de crescimento: 40% pretendem aumentar a produção e 23% das empresas têm intenção de contratar novos trabalhadores até março. No item emprego, trata-se do melhor começo de ano desde 1985. A má notícia é que os preços devem subir na previsão de 43% das indústrias. Os dados estão na Sondagem Conjuntural da Indústria da Transformação, divulgada hoje pela FGV.
O levantamento é realizado trimestralmente e avalia o momento atual e as tendências de curto e médio prazos. Na última sondagem, de janeiro, foram pesquisadas 1.146 empresas de pequeno, médio e grande portes em 25 estados.
Considerando-se a sazonalidade – o primeiro trimestre do ano é tradicionalmente fraco para a indústria -, os resultados são positivos na avaliação do economista Aloísio Campelo, coordenador do Núcleo de Bancos de Dados Especiais da FGV. Campelo lembra que nos últimos 12 meses o fundo do poço da indústria foi julho de 2003. Na época, 42% das empresas consideravam a demanda global fraca – pior resultado desde julho de 1995 - e 22% declaravam estar com estoques excessivos.
Na sondagem divulgada hoje, 19% classificam a demanda global como fraca, enquanto 18% a consideram forte. Com relação aos níveis de estoque, agora apenas 10% das indústrias consultadas dizem estar com volume excessivo. Os maiores ajustes de estoque foram feitos pelos setores de materiais para transportes (montadoras, autopeças, etc..), minerais não metálicos (cimento, vidros e azulejos, por exemplo), mecânica, metalurgia e materiais elétricos e de comunicação.
O economista acredita em uma recuperação gradual da indústria, conforme já apontado na sondagem de outubro passado. "Por enquanto, a perspectiva é de manutenção da tendência de crescimento em ritmo lento", diz Campelo.
O otimismo, no entanto, não deve frear os preços conforme o levantamento da FGV. A intenção de aumento de preços é mais forte nos setores Têxtil (76% dos entrevistados), Metalurgia (65%), Produtos de Materiais Plásticos (76%), Material Elétrico e de Comunicações (47%) e Materiais de Transporte (45%). Algumas empresas colocam a culpa na recomposição salarial imposta pelas convenções coletivas do final do ano e no aumento dos custos decorrente da nova aliqüota da Cofins, que entra em vigor em fevereiro.
Campelo têm outra explicação para os aumentos. O economista acredita que a pressão é resultado da elevação dos preços das commodities no mercado internacional. De janeiro a dezembro de 2003, a alta, em dólar, foi de 32%. No caso dos metais (ferro, zinco, níquel e cobre) a valorização chegou a 40%. Até agora a valorização do real (que passou de cerca de R$ 3,50 para R$ 2,84 em média) vinha compensando a alta nos preços internacionais. Agora, a compensação virá no repasse. "É legítimo pois algumas indústrias estão sentindo pressão nos custos, é só no curto prazo e pode ser assimilado", avalia o economista.