Nova Délhi (Índia), 27/1/2004 (Agência Brasil - ABr) - O presidente Luiz Inácio Lula da Silva ficou encantado, riu e se divertiu com as cenas do cotidiano brasileiro representadas em dezenas de peças de cerâmica multicoloridas. O ministro do Planejamento, Guido Mantega, surpreso com a beleza e simplicidade da coleção, lamentou o fato de nunca ter visto tal mostra no Brasil. A exposição "Arte Popular Brasileira", inaugurada pelo presidente Lula no Museu do Artesanato em Nova Délhi, na Índia, é a maior mostra de arte do Brasil já realizada no país e agradou aos cerca de cem brasileiros e indianos presentes na cerimônia de abertura.
A mostra reúne uma pequena coleção do acervo do Museu Casa do Pontal, no Rio de Janeiro, considerado o maior e mais importante museu de arte popular do Brasil. São peças de cerâmica e madeira de 38 artistas de nove estados brasileiros, entre eles Manoel Galdino, Vitalino Filho, Nhô Caboclo, João Alves e Antônio de Oliveira. E foram coletadas em lugares como Caruaru (PE), Vale do Jequitinhonha (MG), Salvador (BA), São Luís (MA), Niterói (RJ) e São José (SC).
As pequenas esculturas mostram o trabalho na cidade, a dança, o namoro, o casamento, as greves, as conquistas tecnológicas e, ainda, os sonhos, o imaginário e a morte.
Lula e a primeira-dama Marisa Letícia da Silva acharam graça da pequena peça de cerâmica mostrando os americanos chegando à lua de olhos arregalados - da artista Maria do Caruaru - e riram do boneco de lampião sentando à frente de um computador - de autoria de Luiz Galdino. O casal também olhou com interesse para o Boi Vermelho, de Manuel Eudócio, um zebu de cerâmica escolhido para ilustrar o cartaz da mostra, não só por sua beleza, mas também pelo fato de o zebu ser originário da Índia e por possuir um forte simboismo em um país onde o gado é sagrado.
Os organizadores tinham planejado uma grande festa para a abertura da exposição, mas a recepção foi discreta por causa da morte do curador da mostra e dono da Casa do Pontal, Guy Van De Beuque, na manhã desta terça-feira.
De Beuque, de 51 anos, estava na Índia desde o início do mês para organizar a exposição e morreu às 5h30 de um ataque cardíaco fulminante. A esposa, Ângela Mascelani, que o acompanhava, pediu que a inauguração prosseguisse normalmente porque Guy adorava a Índia e sonhava, há anos, com essa exposição. A embaixadora Vera Barbosa fez uma homenagem ao curador e pediu um minuto de silêncio em sua memória.
Museu do Artesanato
Depois de inaugurar a mostra brasileira, Lula visitou o Museu do Artesanato de Nova Délhi, que reúne centenas de peças da cultura indiana, muitas delas milenares. O presidente acompanhou com interesse as explicações da diretora do museu e acabou permanecendo no local mais tempo do que o previsto inicialmente.
No final, Lula visitou uma pequena feira de artesanato no pátio do museu, onde pode ver os artesãos fazendo esculturas ou trabalhando no tear manual. Lula conversou, fez perguntas e ganhou a simpatia do grupo. Dois artesãos correram até o presidente e ofereceram a ele e a dona Marisa dois chalés de algodão, que foram colocados ao redor do pescoço, seguindo uma tradição indiana. Outro levou uma gravura em folha de palmeira. Lula agradeceu com a saudação hindu, curvando-se e mantendo as palmas das mãos juntas na altura do peito. "Namasté", disse o presidente.
Do Museu do Artesanato, Lula ganhou uma escultura da divindade Krishna derrotando uma serpente. "É o símbolo do bem vencendo as forças do mal", explicou a diretora do museu. Lula despediu-se prometendo que a próxima missão comercial e diplomática do Brasil à Índia, em março, procuraria o museu para organizar uma exposição de artesanato indiano no Brasil.