Márcia Detoni
Enviada especial
Nova Délhi (Índia) – O presidente Luiz Inácio Lula da Silva lançou hoje um desafio aos empresários brasileiros em um seminário promovido pela Confederação das Indústrias Indianas (CII) em Nova Délhi. "Está na hora de os empresários brasileiros começarem a garimpar espaços econômicos e a vender seus produtos em outras partes do mundo", disse Lula. "É preciso parar de reclamar e vender mais".
Em discurso improvisado na abertura do encontro, o presidente salientou que as empresas brasileiras precisam investir em tecnologia e em qualidade. "Em comércio ninguém faz favor a ninguém. Ninguém vai comprar porque há pobres no país. As pessoas vão comprar quando estivermos preparados para competir do ponto de vista tecnológico, quando os produtos tiverem qualidade e quando tivermos a ousadia de não ficarmos no nosso território esperando que as coisas aconteçam ou que alguém nos procure", afirmou o presidente.
Na opinião de Lula, os empresários brasileiros precisam ter mais criatividade, mais ousadia e perder o medo de se transformarem em empresários multinacionais. "Nós temos de ir à luta, procurar nossos parceiros e fazer os negócios que precisam ser feitos", afirmou Lula.
O presidente ressaltou que os empresários indianos já abriram um escritório comercial no Brasil para explorar as oportunidades de negócio e que o mesmo precisa ser feito pelos brasileiros. Ele também frisou que o Brasil terá um pavilhão de 5 mil metros na Exposição Internacional de Nova Délhi em novembro para os empresários brasileiros mostrarem seus produtos.
Recado para os estrangeiros
A mensagem aos homens de negócio indianos também foi clara. Lula disse que o Brasil quer ter uma relação estratégica com a Índia, que a economia brasileira é estável e está crescendo, que o governo tem metas claras e que há muitas oportunidades de negócio na área de infra-estrutura, principalmente no setor de transportes (estradas e ferrovias) e de energia.
"Este governo está estabilizando a economia sem nenhum plano milagroso, só fazendo o que precisa ser feito. O risco país caiu de 2.400 na época da eleição para 400, a inflação projetada para 40% antes de eu assumir deve ficar em 6% no meio do ano, e o Brasil está preparado para retomar o crescimento, já sentido em todos os estudos feitos entre novembro e dezembro", comentou Lula.
O presidente disse ainda que o governo brasileiro já definiu suas metas para os quatro anos de mandato no Plano Pluri-Anual e que as Parcerias Público Privadas vão estabelecer os acordos que o governo fará com as empresas "para que as pessoas tenham a certeza de que não serão enganadas em nenhum momento na medida em que assinarem um contrato com o governo".
Amanhã, o presidente terá um novo encontro com empresários indianos e brasileiros na cidade de Mumbai, a capital financeira da Índia. O presidente da Confederação das Índústrias Indianas, Anand Mahindra, disse que a expectativa do governo e dos empresários indianos é fazer o volume de comércio entre Brasil e Índia pular dos atuais US$ 1,2 bilhão para US$ 3 bilhões em cinco anos.
O presidente Lula disse estar convencido, no entanto, de que Brasil e Índia não atingiram ainda nem 10% do que podem alcançar nas relações comerciais e que a distância geográfica entre os dois países não é um obstáculo.
"Se um português, antes de 1500, ousava sair de Portugal e dava a volta no continente africano para chegar à Índia para comprar iguarias, nós agora não precisamos dar a volta no continente. Temos outros meios de transporte e podemos transportar empresas de um país para o outro. Isso depende apenas de decisão política", disse.