Murilo Ramos
Enviado especial
Davos (Suíça) - Apesar de levar a economia no nome, o Fórum Econômico Mundial é, na verdade, a oportunidade de representantes de governos, empresas e organismos não- governamentais se projetarem para o mundo com idéias e conceitos, muitas vezes ligados à política.
A abertura do encontro teve muito disso. A amplitude do tema "Segurança e Prosperidade" permitiu que o ministro da Defesa da Inglaterra, Jack Straw, usasse os holofotes posicionados na hora para cobrar da Organização das Nações Unidas (ONU) mais atenção à questão do Iraque. Sugeriu que o organismo multilateral tenha papel mais efetivo na reconstrução do país, principalmente após a prisão do ex-presidente Saddam Hussein.
Straw, no entanto, fez questão de ressaltar que a Grã-Bretanha continuará com a força de ocupação, ao lado dos Estados Unidos, a fim de garantir o "controle da ordem". No ano passado, a postura britânica provocou choque com outros integrantes do Fórum, contrários à intervenção.
O assunto, no entanto, não vai se apagar de vez, pois o vice-presidente dos Estados Unidos, Dick Cheney, e o administrador americano no Iraque, Paul Bremer, devem tratar do assunto.
Palco disputado
Outra que teve a chance de dar o seu recado foi a diretora do movimento "opinião Pública de Olho em Davos", Mary Robinson. Ela explicou que o foco do encontro mundial tem de mudar, já que o abismo entre pobres e ricos tem aumentado sem que isso tenha atenuado nos últimos anos. "A conta capitalista só fala em números, enquanto que as pessoas continuam passando por necessidades ao redor do mundo. É uma matemática burra", destacou.
A exemplo de Straw, Robinson pediu que a ONU tenha um papel mais efetivo no combate às desigualdades. "A ONU deve manifestar-se", afirmou. A diretora da ONG participou do Fórum Social Mundial.
Uma paralelo a Davos oficial
A menos de um quilômetro de onde se realiza o Fórum Econômico Mundial, uma "Davos aberta" está sendo promovida para debater assuntos com alguma interface com aquilo que é discutido pelas principais autoridades e empresários no FEM. Na lista de discussões estão assuntos como a "desglobalização" e mais dúvidas do que certezas, como o tema: "A globalização aumentou os riscos de crises financeiras globais?", ou "Religião: a globalização pode trazer a salvação?"
Muito menos reflexivo são alguns movimentos contrários à realização do fórum, como o anti-WEF, baseado na Bélgica. O movimento promete para este ano causar confusão na estrada que liga Zurique a Davos. Uma das propostas é evitar que participantes do fórum cheguem ao seu destino final a fim de "disseminar idéias capitalistas de opressão".