Marcia Detoni e Anderson Arcoverde
Enviados especiais
Mumbai (Índia) - Representantes de alguns movimentos sociais querem transformar a Organização Mundial do Comércio (OMC) por meio do diálogo e da pressão. Em um painel sobre a OMC realizado no primeiro dia de debates do 4º Fórum Social Mundial, nesta cidade indiana, os participantes disseram que o organismo, tão criticado por ativistas sociais, poderia ajudar na construção de um comércio internacional mais justo se concordasse em mudar o seu princípio fundamental - o livre comércio entre as nações. É preciso, segundo eles, que a OMC passe a respeitar a necessidade dos países pobres de promover o próprio desenvolvimento.
"As regras da OMC em relação a subsídios, propriedade intelectual, investimento e compra governamental impedem o desenvolvimento nacional", disse o sindicalista Rafael Freitas Neto, que representou a CUT no painel.
A proposta de uma mudança na OMC para que passe a considerar os interesses da maioria, e não apenas os dos países ricos, vem ganhando adeptos dentro de governos da propria União Européia que, como EUA e Japão, impõe inúmeras barreiras no comércio com os países em desenvolvimento.
Em artigo escrito especialmente para uma publicação do 4º Fórum Econômico Mundial, o ministro do Exterior da Finlândia, Erkki Tuomioja, defendeu a redefinição do sistema econômico global e apoiou o fim dos subsídios agrícolas para dar aos países pobres uma chance de vender seus produtos nos mercados ricos.
A estratégia do diálogo e a pressão com governos e organismos internacionais também foi defendida em uma conferência sobre globalização e governança realizada hoje. Os palestrantes pediram uma maior ação da sociedade civil sobre os governos para que mudem de política econômica.
O diretor-geral da Organização Internacional do Trabalho, Juan Somavia, observou que o desemprego na América Latina cresceu em 50% desde 1980 e mais da metade da população das grandes cidades nos países em desenvolvimento vive do trabalho informal. Na Índia, 92% dos trabalhadores estão na informalidade.
Para os painelistas, entre eles a ex-presidente da Irlanda Mary Robinson, a informalidade, a pobreza, e o trabalho infantil só serão combatidos com alternativas a política neoliberal. Não se trata, na opinião deles, de um retorno à economia do passado, mas a estratégia de deixar as forças de mercado atuarem livremente não está resultando numa melhoria de vida para
todos.
Rafael Freitas Neto observou que o Fórum não tem a função de tomar decisões, mas os debates terão grande influência sobre as ações futuras do movimento social. "Na rede dos movimentos sociais, eu acredito que poderemos tirar propostas concretas em dois níveis: bloquear as negociações dentro da OMC e apresentar aos nosos governos pontos alternativos de comércio
internacional", comentou.