Por Joyce Mulama
Repórter da IPS/Envolverde
Mumbai, Índia - As mensagens em gigantescas faixas impuseram-se. Sobre um tecido branco foram escritas as frases: "A África não está à venda" e "A solução dos problemas africanos encontra-se na África", mostrando a ânsia dos participantes africanos em pôr um ponto final aos problemas do continente.
Os manifestantes reuniram-se no Nescor Ground, local que sedia o Fórum Sociam Mundial, em Mumbai, parte ocidental da Índia, para participar da reunião anual de organizações da sociedade civil e ativistas contrários à atual ordem social e política internacional.
Realizado pela primeira vez há quatro anos, o encontro do Fórum Social Mundial (FSM) registrou um aumento do número de participantes da delegação africana de 200 no ano passado para aproximadamente 500 neste ano, segundo o professor Edward Oyugi, representante oficial do Fórum Social Africano (FSA), plataforma continental filiada ao FSM.
Este ano o FSA enviou à Índia 82 representantes, enquanto no ano passado apenas 60 pessoas puderam estar em Porto Alegre. "O aumento da participação de delegados africanos é uma demonstração de solidariedade e comprometimento, na tentativa de combater as doenças que afligem a África", disse Oyugi.
Pobreza, enormes dívidas externas, HIV/AIDS e corrupção, entre outras coisas, fazem parte da lista de problemas que atingem o continente e que constituem tema central da agenda africana durante o FSM.
Especialistas do continente estão convencidos de que frutos positivos podem ser resultado das discussões. "Esperamos que as organizações da sociedade civil aqui representadas desafiem os governos a tirarem do papel as recomendações a serem feitas durante este encontro", declara Priscilla Achakpa, membro da delegação nigeriana.
De acordo com Oyugi, o FSM tem gerado frutos desde os seus três primeiros encontros em Porto Alegre, Brasil. "O Banco Mundial e outras instituições admitiram que suas políticas não têm funcionado e que os Programas de Ajustamento Estrutural não melhoraram a vida das pessoas no Terceiro Mundo", disse Oyugi. "O fato de o Banco Mundial admitir isso é resultado de campanhas como as realizadas nesse espaço", acrescentou.
Com ou sem governo
Críticos, contudo, afirmam que as soluções dos problemas precisam vir do próprio continente. "É uma questão de tomar a atitude correta. Temos de saber que podemos colocar as coisas em ordem utilizando os recursos corretamente e evitando mendigar junto a organizações financiadoras para evitarmos um acúmulo de dívidas desnecessário", argumenta o queniano Mike Muchilwa.
Para ele, tais soluções devem envolver a colaboração de governos que deveriam estar representados no FSM. Esta observação foi fortemente criticada por organizações presentes que acreditam ser o Fórum um espaço para que ativistas façam planejamentos e troquem pontos de vista.
"É essencial que este encontro se realize sem a participação do governo. Teremos os momentos nos quais vamos nos reunir com o governo. Precisamos de um espaço onde possamos nos encontrar e desenvolver nossas estratégias", contrapõe George Dor, diretor-geral do Jubileu Sul, plataforma sul-africana que se ocupa de problemas da África. "Há um grande perigo quando se convida o governo. Algumas organizações têm a tendência a ficar atadas", adverte.
Traduzido por Mário Nunes