Márcia Detoni
Enviada Especial
Mumbai, Índia - Uma grande marcha, com milhares de pessoas de várias nacionalidades, grupos de trabalhadores, estudantes e indianos marginalizados pelo sistema de castas hindu, marcou a abertura do 4o Fórum Social Mundial em Mumbai na Índia. A festa começou às 16 horas (8h30min em Brasília) e estendeu-se durante a noite com shows e outras atividades culturais. A forte presença de populações excluídas cumpriu um dos objetivos do deslocamento do FSM este ano para a Índia: a popularização do evento, restrito, em Porto Alegre a uma elite intelectual e cultural.
A chegada dos manifestantes ao Fórum foi uma festa de cor, sons e estilos. Enquanto moradores locais balançavam arcos e flechas, estudantes tocavam tambores e budistas desfilavam calmamente em trajes cor de vinho desejando paz à humanidade. Os brasileiros, desta vez em minoria, empunhavam a bandeira nacional no meio da multidão, lembrando aos participantes que foi em Porto Alegre, três anos atrás, que a sociedade civil organizada deu início ao movimento de resistência à exclusão social provocada por políticas neoliberais e pela globalização da economia.
Este ano, no entanto, os slogans contra o Fundo Monetário Internacional e a Organização Mundial do Comércio que marcaram os primeiros eventos em Porto Alegre e deflagraram protestos contra a Alca (Área de Livre Comércio das Américas) cederam espaço a manifestações contra a guerra e pelo respeito aos direitos humanos. "Não se pode separar a democracia política da democracia social", explicou o ativista de direitos humanos palestino Mustafa Barghouti, um dos oradores da cerimônia de abertura.
Representantes do Iraque, Irã e Vietnam - todos abalados por guerras - , também falaram na abertura do FSM, evidenciando uma mudança de ênfase nos debates. Mas, segundo o ativista britânico Jeremy Cobin, que integrou o grupo de oradores desta sexta-feira, a luta pela paz também é uma luta por uma outra globalização. "Depois da guerra do Iraque, surgiu um sentimento de solidariedade principalmente no Brasil e na Índia, países que se posicionaram
contra o conflito. O colapso das negociações da Alca em Cancun no ano passado foi o resultado dessa mobilização, principalmente na América Latina", comentou.
Segundo os organizadores, cerca de 100 mil pessoas inscreveram-se para participar das atividades durante o evento. Após a solenidade de abertura, o público presente no Fórum pôde embalar-se ao som do grupo brasileiro de Hip Hop Instituto. Os músicos levaram ao palco artistas indianos, africanos e promoveram uma fusão de ritmos acústicos com som eletrônico.