Márcia Detoni
Enviada Especial
Mumbai (Índia) – Poderia ser São Paulo. Uma metrópole com 20 milhões de habitantes, repleta de favelas que invadem as ruas e moradores sem-teto que fazem da sarjeta um lar. Mas em Mumbai, a maior cidade da Índia e capital financeira e industrial do país, as diferenças de um universo berço de boa parte da cultura oriental saltam aos olhos dos visitantes despreparados. Nas vias públicas, carros dividem espaço com antigos triciclos, com ônibus em modelos ingleses e com as vacas que perambulam como vira-latas. A multidão carrega o colorido dos trajes típicos locais e orquestra um concerto caótico de buzinas e gritos. Nesse país que tem a bomba atômica desde 1974 e está investindo em pesquisas espaciais para mandar o primeiro indiano à lua dentro de alguns anos, tem em Mumbai a concentração da metade de seu comércio exterior.
Segundo organizações humanitárias, mais de 60% da população da cidade vive de forma precária em favelas sem água encanada nem esgoto. A cidade recebe diariamente milhares de pobres da zona rural em busca de oportunidades na terra de Bollywood, a famosa indústria cinematográfica indiana que projeta nas telas uma Índia rica e saudável. A previsão da ONU é que Mumbai se transforme, em 2020, na mais populosa cidade do planeta, com 28, 5 milhões de habitantes.
Apesar da pobreza aviltante, dados do Banco Mundial mostram que, desde 1970, as condições de vida vêm melhorando de forma significativa na Índia. A expectativa de vida subiu de 49 anos para 63 anos, e a taxa de natalidade baixou de 6 crianças por mulher, para três. Na última década, a economia tem crescido em uma média de 5% a 5.5% ao ano.
As reformas econômicas e privatizações introduzidas nos anos 90 promoveram o crescimento do setor industrial, principalmente na área de informática. Hoje, a Índia é o maior exportador mundial de programas de software graças a um forte ensino na área de ciências exatas. Participantes do 4oFórum Social Mundial em Mumbai denunciam, no entanto, que a privatização de serviços essenciais e o conseqüente aumento de preços tiveram um forte impacto sobre a população carente.