Biodiesel é pesquisado no Brasil desde a década de 70

16/01/2004 - 17h25

Brasília, 16/1/2004 (Agência Brasil - ABr) - Unificar o esforço das pesquisas desenvolvidas no país voltadas à produção de biodiesel, além de centralizar a definição de estratégias no campo da energia baseada em fontes alternativas são os principais objetivos do Pólo Nacional de Biocombustíveis de Piracicaba. O protocolo de intenções assinado, hoje, na cidade paulista, pelo presidente Lula faz da Escola Superior de Agricultura Luiz de Queiroz (Esalq) a coordenadora do projeto. Ligada à Universidade de São Paulo (USP), a Esalq tem longa experiência na condução de pesquisas sobre o álcool combustível.

Além disso, a região de Piracicaba é conhecida como pólo sucroalcooleiro e centraliza boa parte da produção de açúcar e álcool do Sudeste. Os primeiros estudos sobre o uso do biodiesel no país despontaram na década de 70, em decorrência da crise de petróleo que afligia o mundo. Hoje, o objetivo em investir na tecnologia de energias renováveis, aliás, decorre justamente de uma nova crise que se anuncia há tempos: o esgotamento mundial do combustível fóssil, cujas reservas existentes devem render apenas mais quatro décadas de exploração.

Os estudos brasileiros de então comprovaram a viabilidade técnica do biodiesel e resultaram num inventário das espécies geradoras de óleos vegetais. O uso do combustível alternativo, na época, não vingou porque o óleo diesel era praticamente imbatível no mercado, como ainda o é, em função de seu baixo custo. A despeito do componente econômico, o ministério da Ciência e Tecnologia (MCT), lançou, em 2002, o Programa Brasileiro de Desenvolvimento Tecnológico de Biodiesel (Probiodiesel), motivado pela necessidade de encontrar fontes alternativas geradoras de energia e, acima de tudo, por causa da pressão cada vez maior, inclusive por parte de entidades internacionais, como as Nações Unidas (ONU), pela redução na emissão de gases poluentes.

O diesel é o combustível que mais emite dióxido de carbono, o CO², responsável por provocar e agravar o chamado efeito estufa. No sentido literal, o efeito gera o aquecimento do globo terrestre. A idéia do projeto coordenado pelo MCT é testar o biocombustível em várias capitais até o final de 2004. O Probiodiesel tem orçamento previsto de R$ 8 milhões para esse período. A mistura estudada até o momento é a linha B-5, ou seja, mistura de 5% de óleo vegetal ao diesel.

Outro laboratório da USP que avalia mistura de óleos vegetais ao diesel é o Laboratório de Desenvolvimento de Tecnologias Limpas (Ladetel), de Ribeirão Preto, onde é desenvolvido o Projeto Biodiesel Brasil. Os pesquisadores têm utilizado 11 variantes de óleos em testes e ensaios: soja, amendoim, girassol, algodão, milho, canola, mamona, pequi, macaúba, babaçu, dendê e óleos provenientes de fritura utilizados por restaurantes. Os óleos usados são cedidos pela rede de lanchonetes McDonald's e pelos restaurantes universitários da Esalq, da USP (campus de Ribeirão e São Carlos) e da Universidade Estadual de São Paulo (Unesp), campus de Jaboticabal. A fonte mais usada é o óleo de soja por ser o mais abundante.

O Ladetel ganhou, nesta semana, o apoio do maior fabricante e exportador de motores a diesel do Mercosul, a International Engines South America. A empresa repassará informações sobre pesquisas e testes que realiza em sua linha de produção e também ofecererá assistência tecnológica a empresas transportadoras que usam o biodiesel B-5 e o B-25. A eficiência do combustível alternativo vem sendo testada pelos pesquisadores em equipamentos agrícolas, carros de passeio, locomotivas, motores e geradores elétricos. Os testes incluem também análises de consumo, durabilidade e emissão de poluentes. Os pesquisadores avaliam as misturas B-20, B-50 e B-100 nesses veículos.

Outras universidades têm realizado testes em carros com biodiesel à base de óleo soja. Uma delas é a do Paraná (UFPR), que usa um carro modelo Golf diesel 1.9 turbo, cedido pela Volkswagen/Audi, de São José dos Pinhais. Esse é um dos veículos-teste em avaliação no âmbito do Probiodiesel e sua avaliação é dividida entre a UFPR, o Instituto de Tecnologia do Paraná (Tecpar) e a Rede Paraná Autotech.

O óleo de fritura da rede McDonald´s também "abastece" outro projeto de pesquisa, este uma parceria da Coordenação de Programas de Pós-Graduação em Engenharia (Coppe) e da Escola de Química, ambas da Universidade Federal do Rio de Janeiro (UFRJ). São 25 mil litros de óleo empregados como matéria-prima para a produção de biodiesel. O combustível é testado em veículos cedidos pela Volkswagen.

A inauguração oficial do pólo, com a presença do presidente, hoje, é fruto de uma proposta que nasceu em Piracicaba depois de uma visita do ministro da Agricultura Roberto Rodrigues e que deu origem a um pré-projeto apresentado a Lula em outubro de 2003. A iniciativa do governo demonstra que o pólo será o centro decisório e gestor da Política Nacional de Biocombustíveis e, para o diretor da Esalq, José Roberto Postali Parra, a expectativa dos pesquisadores da instituiçãpo é a criação de uma sede para o pólo. A localização já foi até definida, seria na Fazenda Experimental Areão.

Outra perspectiva que se abre, e desejada pelos pesquisadores, é a destinação de recursos para financiar projetos de pesquisa, ainda que não se saiba se o pólo terá o poder de indicar que projetos devem ser financiados ou mesmo a sistemática de avaliação desses projetos. A primeira ação efetiva do pólo, de acordo com Parra, será a formação de uma comissão gestora. A intenção é reunir membros da universidade, do governo e do setor produtivo. As empresas, aliás, serão chamadas para patrocinar projetos de pesquisa.