Nádia Faggiani
Enviada especial ao México
Monterrey (México) - A Cúpula Extraordinária das Américas, que começa amanhã (12), será a primeira conferência realizada entre países do continente americano após os atentados de 11 de setembro de 2001. O encontro, com a presença de 14 novos chefes de Estado eleitos após a última reunião realizada em 2001, incluirá temas como combate ao terrorismo e o compromisso coletivo entre países do hemisfério em torno de ações voltadas para a segurança na região.
É também a preocupação com atos terroristas durante os dois dias de reunião que levou os governos mexicano e norte-americano a colocarem reforço policial para controlar quem entra ou sai dos hotéis onde ficarão hospedados os 34 chefes de governo e nos aeroportos internacionais do México.
Um muro de dois metros de altura também foi levantado ao redor da sede do encontro, para evitar a presença de grupos revolucionários que possam querer se aproximar do presidente norte-americano, George W. Bush, ou mesmo causar incidentes aos participantes da Cúpula.
De acordo com os jornais locais, o secretário norte-americano de Segurança Interior, Tom Ridge, anunciou que desde ontem foi retirada do Aeroporto Internacional da Cidade do México a maior parte do pessoal do FBI (a polícia federal dos EUA) recrutado por meio da embaixada no México para reforçar o controle e a segurança no aeroporto. Os Estados Unidos teriam diminuído o estado de alerta laranja (alta) para amarelo (elevada), diante de uma possível redução de ameaça terrorista, mas continuam a manter localidades consideradas críticas sob proteção especial.
Desde 21 de dezembro o FBI mantém alerta laranja nos aeroportos mexicanos em
antecipação às festas de fim de ano. Nesse período, foram canceladas, retardadas ou desviadas dezenas de vôos comerciais Londres-Washington, México-Los Angeles e Paris-Los Angeles, das linhas aéreas British Airways, Air France e Aeroméxico. O objetivo foi impedir que esses vôos fossem usados pelo grupo Al Qaeda com fins terroristas.
Fronteira
A população mexicana e algumas autoridades consideram a medida uma violência à soberania do país, porém há quem diga que o fato de o México ter fronteira com os Estados Unidos faz com que o país seja solidário em favor das medidas contra o terrorismo. José Angel, um corretor de seguros mexicano, critica a maneira como seu povo é tratado, principalmente nas zonas de fronteira onde a segurança americana é reforçada. "Não podemos deixar de ter relações comerciais com o país mais poderoso do mundo, mas pessoas que vivem e trabalham nos Estados Unidos e vêm ao México visitar a família, quando regressam são tratadas como turistas, têm que responder a uma série de perguntas e ficam horas à espera de poderem entrar no país", diz Angel.
O corretor diz que o México é a principal fronteira para ingressar nos Estados Unidos e que o controle rigoroso existe devido ao medo de que ingressem no país terroristas ou trabalhadores ilegais. "É comum os americanos barrarem a passagem de húngaros, guatemaltecos e outros povos que tentam entrar nos Estados Unidos pelo México. As relações entre México e Estados Unidos estão bem teoricamente, mas é preciso um tratamento melhor, pelo menos a quem já vive lá", defende o mexicano.
Analistas locais afirmam que as discussões entre México e Estados Unidos previstas para a reunião de Cúpula estarão centradas em questões bilaterais como segurança, terrorismo e migração. Estas discussões incluirão a proposta do presidente George W. Bush de um plano para os trabalhadores temporários que estão em situação irregular. Cerca de 4,5 milhões deles são mexicanos.
O anúncio sobre a legalização não tem sido aprovado por algumas entidades civis que consideram a proposta oportunista e eleitoreira, em busca de votos para as próximas eleições, das comunidades mexicanas que vivem nos Estados Unidos.