Viviane Fernandes
Repórter da Agência Brasil
Brasília, 6/1/2004 (Agência Brasil - ABr) - Nos últimos cinco anos, a exportação de camarão de cativeiro deu um salto no Brasil. Passou de 37,8 mil toneladas, em 2002, para 62 mil, neste ano. A Região Nordeste é a maior produtora de camarão de cativeiro. Concentra 97% da produção nacional.
Além do aumento nas exportações, o número de empregos diretos e indiretos tem crescido na região. Cinqüenta mil empregos foram gerados principalmente no litoral. A atividade tem empregado mão-de-obra sem qualificação e desocupada em conseqüência da queda nas atividades da pesca artesanal e nas plantações de açúcar 95% da produção são de pequenos e médios produtores.
Para o presidente da Associação Brasileira de Criadores de Camarão, Itamar Rocha, o Brasil tem condições de se tornar líder mundial em exportação de camarão. "O Brasil hoje é o sexto produtor mundial deste ano.
A expectativa é ser líder do mundo até 2010 em exportação de camarão. De todos os países que cultivam o camarão, o Brasil é o único a cultivar de janeiro a dezembro sem diferenciação, ou seja, sem picles de produção, diferente da Ásia que tem um ciclo longo, mas que depois tem que parar por causa da diversidade de clima."O Brasil não tem o vírus mancha branca que ataca o camarão do mundo todo e o camarão é de alta qualidade", disse.
O maior exportador de camarão do mundo é a China, com 300 mil hectares de viveiros de camarão. Em seguida, o Vietnã com quinhentos mil hectares. O Brasil, apesar de possuir apenas 14 mil hectares, é líder em produtividade. Produz até seis vezes mais que a China e 25 vezes mais que o Vietnã.
Mário Sergio de Mendonça é produtor de camarão em cativeiro há 16 anos no município de Tibau do Sul, no Rio Grande do Norte. Atraído pela propaganda do governo, resolveu investir na carcinicultura e logo conseguiu um financiamento para o negócio. Aliás, um bom negócio, segundo ele."Em termos de agronegócio, a carcinicultura teve um crescimento muito rápido no Brasil e, com isso, sofreu conseqüências por causas de pessoas que desconhecem a atividade.
Hoje estamos passando por uma crise de estratificação por causa dessas pessoas que acharam que iriam enriquecer e se decepcionaram. Mas a atividade é lucrativa se trabalhar com responsabilidade e controle de custo. É um potencial enorme que se tem aqui no nordeste e gera muita divisa e com certeza eu recomendo que se invistam nessa área mas com cuidado como tudo na vida", afirmou.
O presidente da Associação Brasileira de criadores de camarão, Itamar Rocha, reclama da falta de apoio governamental na produção e na comercialização do produto, além da dificuldade para conseguir a licença ambiental. Ele esclarece ainda que muitos produtores estão em situação de clandestinidade prejudicando a imagem do setor.
O diretor de Desenvolvimento de Agricultura do Ministério da Agricultura, João Scorvo, diz que a Secretaria Especial de Agricultura e Pesca – Seap tem investido recursos principalmente na área de pesquisa.
"Uma das ações onde a SEAP investiu recurso foi na área da pesquisa, mas nós temos outras injeções de recursos da própria ABCC de apoio ao fomento . A SEAP não tem muito recurso mas ele pode interferir na questão de crédito e nós conseguimos com o BNDS uma linha de crédito para a carcinicultura. Nós temos trabalhado nesta questão ambiental. Eu não vejo o governo injetando simplesmente recurso na carcinicultura, não, o governo fomenta a carcinicultura de várias formas uma delas seria a injeção de dinheiro através da pesquisa e de uma ação isolada", disse.
Apesar dos bons resultados, há quem discorde de que a produção de camarão em cativeiro seja um bom negócio e traga benefícios para o país. A Câmara dos Deputados por meio da comissão de defesa do consumidor e meio ambiente está visitando algumas regiões onde a atividade da carcinicultura está em alta. O coordenador do grupo de trabalho, o deputado João Alfredo do PT do Ceará diz que a atividade não é um atrativo.
"Há uma reprodução muito rápida do camarão, mas por outro lado não tem gerado emprego de qualidade. São empregos na maioria deles sazonais e informais que acontecem principalmente no período da despesca. Porém o mais grave é que esta atividade tem agredido profundamente o meio ambiente porque estão desmatando os manguezais e poluindo os recursos hídricos da região", afirmou.
O deputado disse também que a atividade da carcinicultura não deveria ser realizada nas áreas dos manguesais nem mesmo perto delas. Pede cuidado maior no momento da despesca.