Mulheres devem fazer exame papanicolau para prevenir câncer de colo de útero

28/12/2003 - 7h10

Brasília, 28/12/2003 (Agência Brasil - ABr) - Um quarto das mulheres brasileiras sexualmente ativas tem o HPV, vírus do papiloma humano, segundo cálculos do Ministério da Saúde. A grande maioria delas não sabe que tem o vírus. Isso significa, segundo explicou o ginecologista Adalberto Ferro, coordenador regional do Programa Viva Mulher, que essas mulheres podem desenvolver o câncer de colo de útero.

Silencioso, o câncer de colo de útero ainda mata muitas mulheres no Brasil. O Instituto Nacional do Câncer (Inca) estima que mais de 16 mil mulheres desenvolvam a doença e ainda 4.110 mil morram este ano. Como na maioria dos casos, a doença não apresenta nenhum sintoma, a única solução é investir na prevenção.

A prevenção é simples e barata, mas pouco feita no Brasil. Para evitar o câncer de colo de útero basta fazer o exame ginecológico, chamado de papanicolau. Ferro informou que apenas 20% das mulheres atendidas no Sistema Único de Saúde (SUS) fazem o exame regularmente.

De acordo com Ferro, quando incluídos os números de atendimentos da rede privada, essa estatística deve aumentar, mas não chega nem perto dos países de primeiro mundo que apresentam cobertura de até 90%. Em relação às meninas que iniciam sua vida sexual muito cedo, a troca constante de parceiro ou o relacionamento com um homem que tem várias parceiras e o fumo são apontados como os principais fatores de risco.

A forma mais comum de se contrair o HPV é por meio de relação sexual, mas Adalberto Ferro alerta que não é a única maneira. Ele disse que tem crianças que são portadoras desse vírus. O contato com peças intímas de pessoas contaminadas, por exemplo, pode ser outra forma de contato. O médico dá um conselho, principalmente aos casais: "Não briguem por HPV", porque, segundo ele, a grande maioria das pessoas não sabe que possui o vírus.

Existem mais de 200 variações para o HPV. Dessas, 12 causariam os coginomas, mais conhecidos como verrugas genitais. Segundo Ferro, as verrugas são pouco preocupantes no sentido de desenvolver um câncer. O problema, segundo ele, é social, porque ninguém quer ter uma verruga genital e ser "taxado de promiscuo". "Nesses casos, geralmente as pessoas ficam muito deprimidas", disse.

Ferro explica que o fato da paciente apresentar o HPV não significa que irá desenvolver o câncer. A relação seria, segundo ele, a mesma da pessoa fumante desenvolver câncer de pulmão. Mas ele alerta que todas as mulheres devem fazer a prevenção regularmente porque ainda não se sabe os motivos que levam uma pessoa a desenvolver a doença.

Quando o exame de papanicolau verifica a existência de alguma irregularidade, a paciente é indicada a fazer um exame mais completo, chamado de coposcopia. Esse exame "tira fotos ampliadas" do útero, nas quais é possível verificar as alterações. Segundo o médico, algumas alterações são menos relevantes e se curam espontaneamente. Já as lesões que têm potencial de desenvolvimento são retiradas. Nos casos mais graves o útero é retirado.

O preconceito ainda é o pior problema

O preconceito e a falta de informação fazem com que uma grande parcela das mulheres não realize o exame preventivo. Dados do Instituto Nacional do Câncer (Inca) revelam que o câncer de colo do útero é a quarta causa de morte entre as mulheres.

Como a doença geralmente não apresenta sintomas, os exames preventivos devem ser realizados regularmente. Em 2002, cerca de 3,9 milhões de mulheres foram submetidas ao exame de papanicolau.

O chefe da Divisão de Detenção Precoce, Luiz Cláudio Thuler, informou que não está programada nenhuma campanha de prevenção da doença para 2004, mas é feito um trabalho de rotina "intenso em todo o Brasil". "A campanha é uma questão pontual, pois o que a gente quer é que a rotina esteja disponível o ano inteiro para que a mulher brasileira possa fazer o exame em qualquer mês", disse.