Suplementos alimentares requerem critério para o consumo

18/12/2003 - 10h21

Brasília, 18/12/03 (Agência Brasil - ABr) - Todos os dias, milhares de pessoas - atletas ou não - procuram lojas especializadas em suplementos alimentares, na busca de produtos que possam melhorar suas performances e a estética, motivados pela propaganda, indicações de treinadores e comerciantes do ramo. Para estes consumidores, pouco importa que os suplementos ainda sejam alvos de divergências científicas sobre sua eficácia na melhora dos resultados perseguidos. Esses produtos se tornaram febre entre os jovens que querem acumular músculos rapidamente. Porém, poucos conhecem os prejuízos que essas substâncias podem causar à saúde.

São vários os suplementos alimentares ofertados para quem está malhando. Quase todos são liberados pela Agência Nacional de Vigilância Sanitária (Anvisa), mas é necessário o acompanhamento de um nutricionista. Além das dúvidas sobre sua eficácia, não há garantia de que eles não tenham efeitos colaterais adversos à saúde. O que todos já sabem é que o consumo excessivo pode acarretar problemas gastrintestinais, neurológicos e renais, entre outros.

Suplementos são produtos feitos à base de vitaminas, minerais, aminoácidos, proteínas ou outras substâncias, cujo consumo visa melhorar a saúde ou prevenir doenças. De um modo geral, os suplementos são consumidos pelos praticantes de atividade física com alguns objetivos, como por exemplo, melhorar o desempenho esportivo; fornecer nutrientes ao organismo, atendendo às necessidades aumentadas pelo exercício; compensar dietas ou hábitos alimentares inadequados; suprir as necessidades de vitaminas e minerais nas dietas para redução de peso; reverter alguma forma de deficiência nutricional; oferecer os nutrientes que se apresentam em quantidade insuficiente nos alimentos.

Segundo Márcia Daskal Hirschbruch, nutricionista e mestranda da Escola Paulista de Medicina (EPM), a segurança e benefício de muitos desses produtos ainda não foram comprovados cientificamente. Para ela são necessárias mais pesquisas sobre os efeitos dos suplementos na saúde. Ela e sua equipe realizaram um estudo com freqüentadores de sete academias de ginástica da cidade de São Paulo. Foram entrevistadas mais de 300 pessoas, de 18 a 38 anos, que praticavam exercícios físicos pelo menos duas vezes por semana, durante 45 minutos ou mais.

"A maioria dos freqüentadores de academias (61%) usam algum tipo de suplemento alimentar. Nesse grupo, predominam os que fazem autoprescrição (41%), seguidos dos que usam o produto por indicação de treinadores (27,5%). Os únicos profissionais capacitados para prescrever suplementos são os médicos, de preferência os especializados em Medicina do Esporte, e os nutricionistas", lembra Márcia Daskal.

Valéria Paschoal

Para a nutricionista paulista Valéria Paschoal, os suplementos são indicados a atletas que treinam muito e não ingerem alimentos suficientes para suprir cerca de 3 mil calorias gastas diariamente. "Para um atleta que treina de manhã e na hora do almoço, suas refeições ficam prejudicadas, por isso o suplemento é importante", explica ela.

"O problema é que as pessoas na correria do dia-a-dia não estão conseguindo fazer uma alimentação adequada. Cabe a elas procurarem um profissional de nutrição para saber o que falta na alimentação e se orientar. O que não concordo muito é com a venda indiscriminada desses suplementos", acrescenta Valéria. Márcia Daskal complementa dizendo que a prescrição dos suplementos seria desnecessária para 80% dos "atletas de academia".

A American Dietitic Association afirma que a melhor estratégia nutricional para a promoção da saúde e redução de doença crônica é obter os nutrientes adequados por meio de uma alimentação variada, mas a entidade ainda considera apropriado o uso de suplementos de vitaminas e minerais quando evidências científicas bem aceitas e revisadas demonstram segurança e eficiência em seu consumo. "A grande parte dos usuários dos suplementos alimentares não têm a menor idéia do motivo pelo qual os consomem. O estudo revela que 8% deles não souberam responder para que servem esses produtos", destaca Márcia Daskal.

O estudo revela ainda que os homens são a maioria entre os consumidores (52%), principalmente na faixa etária de 15 a 19 anos (57,7%). Eles ingerem hipercalóricos, bebidas de recuperação e os fat buners (queimadores de gordura) - proibidos, mas facilmente adquiridos. Já as mulheres preferem bebidas esportivas, vitaminas e minerais. Valéria Paschoal diz que a valorização da aparência "atlética" estimula o abuso dos suplementos. Márcia Daskal concorda e frisa que a pressão é exercida não apenas pelos amigos e professores, mas também pelas academias. "Muitas mantêm lojas e convênios para compra de suplementos".

A tendência mundial da busca pela forma física e pela qualidade de vida é hoje uma realidade, muito além dos modismos e isenta de dependência de faixa etária, sexo ou classe social. Se compararmos o comportamento da população de hoje com a de 50 anos atrás, vemos um abismo. Exercitar-se era uma atividade quase exclusiva de atletas profissionais e não englobava mulheres ou pessoas acima de 40 anos. Uma porção minúscula de adeptos buscava forma física, longevidade, saúde ou estética. Todos estes padrões mudaram. Hoje, se vive mais e com mais saúde. A forma física e a estética igualmente foram impulsionadas pela alta exposição e o desejo de comparação gerado pelos potentes meios de comunicação. Queremos ser bonitos e atraentes como nos é mostrado na TV, nas revistas e outdoors.

"A cultura da estética influência muito as pessoas, ás vezes, de forma negativa ou positiva. Para mim é muito mais negativa, pois as pessoas passam por uma mudança de padrão. Hoje, a obesidade é um problema que é criticado pela mídia, se tornando um problema estético de magreza. Nesse sentido, a mídia influencia uma grande parcela de adolescentes, de 9 a 18 anos", comenta Valéria Paschoal.

Na opinião de Márcia Daskal, para frear o uso abusivo desses produtos o ideal é trabalhar a conscientização dos professores e donos de academia, por meio de informações sobre os prejuízos que eles podem acarretar. "O consumo de suplementos de maneira inadvertida pode vir a apresentar um problema sério de saúde pública", concluí.

Suplemento
Indicação
Possíveis efeitos no organismo
Bebida esportiva ou isotônicos Hidratar e repor carboidratos Não tem contra indicação. Entretanto, diabéticos e hipertensos devem consultar um médico antes de consumi-lo.
Vitaminas e Minerais Suprir deficiências dos gastos calóricos durante o treino O organismo elimina o excesso de algumas vitaminas; as vitaminas A e D tendem a se acumular e podem causar intoxicação, problemas gastrointestinais e neurológicos. A vitamina C pode causar cálculos renais.
Hipercalóricos Aumentar a massa muscular ou repor o aporte calórico Engordar, sem a ajuda de uma dieta planejada. Desnecessária para quem, faz a ingestão adequada de alimentos energéticos
Proteínas e aminoácidos Aumentar a massa muscular O excesso pode elevar os níveis de ácido úrico, causar problemas renais e aumentar a gordura localizada. O consumo acima das necessidades não aumenta a massa muscular, nem o desempenho.
Creatina Aumentar a massa muscular. (indicada para esportes de alta intensidade e curta duração) Retém água e toxinas no organismo, provoca inchaço nos músculos e dá falsa impressão de aquisição da massa muscular.
Maltodextrina, gel de carboidrato e bebidas de recuperação Fornecer energia, possibilitar a queima de gordura e recuperar o estoque de energia dos músculos Intolerância gástrica e, dependendo da dietas, pode engordar.
BCAA (aminoácidos de cadeia ramificada) Prevenir ou retardar a fadiga em exercício de resistência Vários estudos questionam os benefícios prometidos pelos fabricantes. Pode sobrecarregar os rins e o fígado com toxinas, principalmente em pessoas predispostas.
"Fat buner" Queimar gorduras Taquicardia, arritimia e desidratação pelo suor excessivo. Estudos comprovam que o produto não tem eficácia.