Crise no setor imobiliário de São Paulo é a pior em dez anos, mas otimismo com o futuro está em alta

17/12/2003 - 18h37

Mylena Fiori
Repórter da Agência Brasil

São Paulo - O mercado imobiliário paulistano encerra 2003 com o menor índice de vendas dos últimos 10 anos. Foram comercializadas apenas 7,3% das 25.900 novas unidades ofertadas na cidade de São Paulo, o que representa uma queda de 15% em relação a 2002. Apesar do desempenho negativo, o Sindicato da Habitação de SP (Secovi) acredita no reaquecimento da economia em 2004 e aposta na retomada gradativa de créditos habitacionais.

A classe média foi quem mais adquiriu imóveis novos na capital paulista em 2003 – 65% da demanda foi de apartamentos com 2 ou 3 dormitórios. De acordo com o Secovi, a preferência recaiu sobre imóveis de valor até R$ 80 mil, adquiridos por famílias com renda máxima mensal de R$ 4.500,00 – limites impostos para o financiamento da casa própria.

Uma pequena alta na procura por apartamentos de alto padrão, com preços de até R$ 1 milhão, garantiu um aumento de 12% no Valor Global de Vendas. O setor deve encerrar o ano totalizando R$ 5,7 bilhões em vendas.

Apesar da pior demanda desde o início do Plano Real, São Paulo registrou em 2003 um fenômeno curioso: um boom de novos empreendimentos. Foram lançadas 25.900 unidades, contra 15.706 de 2002. O aparente contra-senso tem uma explicação bastante lógica. De acordo com o Secovi, muitas empresas se anteciparam aos efeitos do novo Plano Diretor da Capital e aos possíveis impactos da nova Lei do Zoneamento, em discussão na Câmara Municipal, que prevê a redução dos índices de aproveitamento dos terrenos em boa parte da cidade.

Com relação ao mercado de locação, pesquisa realizada pelo Secovi junto a 153 imobiliárias da capital apontou redução. Sem apontar percentuais, 50% das empresas declaram queda substancial no número de novos contratos. A maior queda foi vista nos imóveis com aluguel entre R$ 751,00 e R$ 2.500,00. Já os índices de impontualidade e inadimplência mantiveram-se estáveis, 2% e 5%.

"Foi um ano fraco, de muitos lançamentos e redução de unidades vendidas", sintetiza o presidente do Secovi/SP, Romeu Chap Chap. A incerteza do mercado com relação à condução da política econômica que seria implementada pelo governo do presidente Lula é uma das causas da crise, na avaliação no empresário. Ele acredita que a tempestade já passou. "Nestes últimos três meses já percebemos uma nova procura por imóveis", conta com otimismo.

Segundo Chap Chap, a reação deve-se a fatores como a redução sistemática da taxa de juros básica (Selic) e a previsão de manutenção desta queda, o superávit primário superior à meta acordada com o FMI e os sucessivos recordes da balança comercial. Para 2004, o panorama é de otimismo. As previsões para o próximo ano incluem um índice de desempenho de vendas (unidades comercializadas em relação à oferta) de 8% a 9%, e uma alta entre 10% e 15% no volume de imóveis vendidos.

Também há grande expectativa com relação à ampliação de recursos para habitação – em 2003 o Sistema Financeiro de Habitação (SFH) financiou a construção de apenas 28,2 mil unidades, recorde negativo desde a criação do SFH, nos anos 50. Na década de 80, o volume anual de unidades financiadas chegou a 280 mil.

Expectativa de curto prazo refere-se à revisão, pelo governo federal, da Medida Provisória 135, que altera a forma de cobrança e eleva de 3% para 7,6% a Contribuição para Financiamento da Seguridade Social (Cofins). Os empresários entendem que o aumento penalizará a indústria da construção e o setor imobiliário pois representará uma alta de 75% na carga tributária do setor. Hoje, os impostos representam 38% do preço final de um imóvel.