São Paulo - A TV pública no Brasil tem a importante missão de formar bons profissionais. Essa é uma das conclusões do Seminário Internacional TVQ - Criança, Adolescente e Mídia, encerrado hoje, em São Paulo. Durante três dias, educadores, psicólogos, psicanalistas, jornalistas, diretores e produtores de TV brasileiros e estrangeiros discutiram a qualidade da programação televisiva no Brasil, com foco nas crianças e adolescentes.
Cerca de 90% dos lares brasileiros têm televisão. As crianças e adolescentes que habitam estes lares passam cerca de 3 horas e meia por dia em frente à telinha – a TV é sua maior fonte de lazer e informação. Telenovelas, noticiários, programas de auditório e até reality shows estão entre os preferidos na faixa etária entre 4 e 17 anos, segundo dados do Ibope. "A TV comercial aberta é o educador hegemônico da sociedade brasileira", sintetiza Laurindo Leal filho, professor do Curso de Jornalismo e Editoração da Escola de Comunicação e Artes da USP (ECA) e convidado do painel A Criança e o Adolescente como Consumidores de Mídia"
É neste contexto que se faz necessária uma reflexão sobre a qualidade da programação televisiva no país. Na avaliação de Leal Filho, o grande problema é que as TVs comerciais só estão preocupadas com a audiência – não existe a consciência de TV como serviço, como concessão de um serviço público. A falta de controle é o principal responsável, na avaliação do jornalista. A legislação que regula a radiodifusão no país é de 1962 e foi aprovada pelo lobby dos concessionários, denuncia Leal Filho. "Os concessionários acham que a gente quer estabelecer censura, mas não é nada disso", afirma.
Ele propõe o que chama de "controle democrático", com acompanhamento, pela sociedade, de todo o processo de concessões. "Os candidatos deveriam dizer exatamente o que pretendem fazer, exatamente como os concessionários de outros serviços públicos", sugere. Um órgão regulador faria este controle periodicamente, a exemplo do que ocorre na Inglaterra, impondo punições ao concessionário que não estiver cumprindo com acertado em contrato.
Beth Carmona, diretora-presidente da TVE/ Rede Brasil, enfatiza que a formação de bons profissionais é um dos caminhos para elevar a qualidade da programação televisiva no Brasil. "A formação do profissional precisa estar comprometida com a agenda social do país, as universidades e os canais de TV deveriam pensar nisso", diz. Neste sentido, é fundamental o papel da TV Pública. "É importante não só para fazer bons programas, mas para formar bons profissionais que depois irão trabalhar nas TVs comerciais", explica Beth Carmona. E vai além: "Temos que nos infiltrar mesmo".
O seminário TVQ - Criança, Adolescente e Mídia, promoviso por quatro entidades - LAPIC (Laboratório de Pesquisas sobre Infância, Imaginário e Comunicação da ECA/USP), LAPSI (Laboratório de Psicologia Sócio-Ambiental e Intervenção do IPUSP), do MIDIATIVA (Centro Brasileiro de Mídia para Crianças e Adolescentes) e do SESC São Paulo - foi um aquecimento para a 4ª Cúpula Mundial de Mídia para Crianças e Adolescentes - Rio Summit 2004. O evento trará ao Rio de Janeiro, em abril do ano que vem, produtores culturais e pesquisadores da área da Comunicação e Educação de mais de 50 países.
Mylena Fiori