Rio, 10/12/2003 (Agência Brasil - ABr) - "Um bom menino não faz pipi na cama, um bom menino não faz malcriação". Aos 88 anos, o Palhaço Carequinha ainda se emociona quando ouve os versos de seu maior sucesso sendo entoado com entusiasmo por crianças e seus pais. "Meu público não morre nunca", diz. Um dos maiores representantes vivos da leva de palhaços marcantes do Brasil, querido principalmente pelo público infantil, Carequinha ainda faz cerca de dois shows por semana e disse que pretende morrer atuando. "Quero trabalhar até o último momento, quero ir andando para o cemitério", brinca. Hoje, no Dia do Palhaço, Carequinha passou o dia em casa descansando com a família. Amanhã, voltará ao batente com um show, as 11h, na Ilha do Fundão.
Carequinha disse que atualmente o palhaço está em segundo plano nos circos. Um dos motivos, para ele, é o abandono da tradição dos diálogos. Os palhaços aparecem apenas nos intervalos das apresentações. "Não existem palhaços como Carequinha, Piolin, que conversavam com as platéias. Antigamente, também, a técnica passava de geração em geração e isso acabou." Ele acha que será difícil retomar a tradição, porque não se aprende a fazer palhaçada na escola, é um dom natural, que deve ser estimulado no dia-a-dia do circo.
Ele se considera um palhaço da família por causa do teor de suas brincadeiras. Preocupado em divertir e em educar, Carequinha nunca levou nenhuma piada para a sexualidade. " Digo sempre que não brinco com a imoralidade e com a pornografia", afirmou, ao criticar o humor atual.
George Savalla Gomes, o Carequinha, nasceu em Rio Bonito, no Rio de Janeiro, em 18 de julho de 1915. A mãe, aramista e trapezista, sentiu as dores do parto em cima do trapézio e deu à luz ali mesmo, dentro do circo. "Cinco anos depois, meu padastro colocou uma careca na minha cabeça e disse que eu seria o palhaço Carequinha". Ironicamente, George tem uma vasta cabeleira, que faz questão de pintar e manter bem penteada, numa prova de extrema vaidade.
Desde que começou a trabalhar como palhaço nunca mais parou, passando por vários circos nacionais e até um internacional, o Sarrazani. Carequinha foi o primeiro artista circense a trabalhar na televisão, a TV Tupi, onde ficou durante muito tempo. O resultado disso, aliado ao talento nato, fez o artista gravar 26 discos que venderam dois milhões de cópias, estimular a venda de produtos infantis que tinham a sua marca, fazer cinema e ainda conquistar vários prêmios e homenagens pelo país. Uma delas foi em Campo Grande, quando conheceu um menino que tinha câncer generalizado. A emoção foi tanta que Carequinha chorou pela primeira vez atuando. "Quando ele me viu, disse que eu era seu amigo e pediu para que eu o trouxesse para o Rio. Não me contive e caí em lágrimas. Expliquei que chorava porque tinha um amigo como ele".
O palhaço afirma que tem apenas um sonho, que é ver surgir um substituto. "Não há ninguém que faça o trabalho do Carequinha, ficaria muito feliz em ter alguém para ensinar". Sua esperança está sendo depositada no bisneto Iago, de 4 anos. O menino imita os gestos de Carequinha e diz que quando crescer será o palhaço Mariola.