"Brasil não trocará princípios por produtos", diz Celso Amorim

10/12/2003 - 8h28

Murilo Ramos
Enviado especial à Líbia

Trípoli (Líbia) – O ministro das Relações Exteriores, Celso Amorim, disse hoje que o Brasil "não trocará princípios por produtos", ao referir-se à postura independente brasileira em relação a assuntos polêmicos, como a desocupação do Iraque e, territórios palestinos e a visita à Líbia, comandada pelo coronel Muamar Kadafi.

Amorim afirmou que o país não tem posição de confronto com os Estados Unidos. "Quem não tem posição própria não é chamado para discutir nada", disse. Criticou brasileiros que têm "visão colonizada" que não querem se indispor contra nada. "Se for assim a gente vai ficar sempre na terceira divisão do cenário internacional. Acho que um dia a gente pode passar para a primeira divisão", reforçou.

O chanceler afirmou, também, que ontem na reunião com embaixadores da Liga Árabe, na cidade do Cairo, no Egito, o presidente brasileiro criticou a postura dos Estados Unidos de atacar o Iraque e não reconhecer o erro pelo fato da aproximação de uma eleição presidencial.

Celso Amorim comentou que a presença de ex-estadistas no jantar com o coronel Muamar Kadafi, tais como Bem Bella, da Argélia e Daniel Ortega, da Nicarágua, não foi responsabilidade brasileira, mas sim do governo líbio. Questionado sobre o porquê de Lula não ter se pronunciado sobre a ditadura Líbia, que já dura 34 anos com Kadafi, Amorim destacou que o presidente brasileiro não foi à Líbia para dar lições. Disse que o presidente Luiz Inácio Lula da Silva representa a pujança de uma democracia em que um líder operário consegue se eleger e assim pode influenciar positivamente. "Ele não veio aqui falar 'solta Fulano, prende Sicrano'", completou o chanceler. Amorim reforçou que o Brasil tem mantido conversações com vários governos – democráticos ou não.

Objetivo da viagem

O ministro disse que a visita à Líbia não é ideológica, mas sim de negócios. Lembrou que há possibilidades comerciais em áreas como a venda de máquinas agrícolas, construção civil e aviação. Acrescentou que o momento é importante porque as sanções econômicas à Líbia foram suspensas neste ano e, segundo ele, é bom que o Brasil esteja nas conversações desde o início. Cobrou, também, que o Iraque seja soberano até para que decida sobre quais países participarão da reconstrução do país.