Países visitados por Lula compram 50% do que o Brasil exporta para o mercado árabe

02/12/2003 - 17h01

Giuliana Napolitano
Repórter da ANBA

São Paulo - Os cinco países árabes que serão visitados pelo presidente Luiz Inácio Lula da Silva a partir desta quarta-feira (03) respondem por quase 50% das exportações brasileiras ao Oriente Médio e Norte da África. No ano passado, os embarques à Síria, Líbia, ao Egito, Líbano e aos Emirados Árabes Unidos somaram pouco mais de US$ 1,2 bilhão, enquanto as vendas totais do Brasil aos 22 países árabes ficaram em US$ 2,6 bilhões.

Esses países também concentram cerca de 30% do Produto Interno Bruto (PIB) da região: algo em torno de US$ 415 bilhões, de acordo com o critério de paridade de poder de compra usado pela Organização das Nações Unidas (ONU) para comparações internacionais.

De olho nesse mercado, acompanham a comitiva de Lula em torno de 40 empresários, que devem se reunir com pelo menos 100 companhias locais, segundo o Itamaraty. Há a expectativa de assinatura de acordos comerciais em todos os países visitados.

Para o secretário-geral e diretor de comércio exterior da Câmara de Comércio Árabe-Brasileira (CCAB), Michel Alaby, durante a viagem, os empresários e o próprio governo brasileiro estarão de olho principalmente nos países do Golfo Arábico, que concentram boa parte do PIB e do comércio externo do Oriente Médio e Norte da África. Dos US$ 170 bilhões importados pelos 22 países árabes, por exemplo, US$ 90 bilhões vão para o Golfo.

Alaby acredita que um dos desdobramentos dessa visita oficial pode ser a aproximação entre o Mercosul e o Conselho de Cooperação do Golfo (CCG), união aduaneira formada por seis países do Golfo: Arábia Saudita, Bahrein, Catar, Emirados, Kuwait e Omã.

Para se ter uma idéia do potencial da região para o Brasil, basta pegar o exemplo dos Emirados Árabes. O país, que tem uma renda per capita de US$ 20,5 mil, uma das mais altas do mundo, importou cerca de US$ 40 bilhões no ano passado. Mas nem todo esse volume atendeu apenas à população local, de menos de 4 milhões de habitantes. Isso porque os Emirados são o maior pólo reexportador da região. Estima-se que o mercado consumidor expandido, que inclui Índia, Paquistão, Irã e Leste Europeu, além dos países árabes, passe de 1 bilhão de pessoas.

Líbia: fim da sanção da ONU

Mas os negócios não ficam apenas nos Emirados. Os outros países visitados também oferecem atrativos, acredita Alaby. A Líbia, por exemplo, que acabou de sair de 11 anos de sanções impostas pela ONU, quer entrar na Organização Mundial do Comércio (OMC) e criar vínculos comerciais com o maior número de países.

Segundo o secretário do Câmara, o país, que foi incluído no roteiro da visita presidencial a pedido de Lula, "tem interesse específico em estabelecer um relacionamento comercial com o Brasil". A Líbia tem a oitava maior reserva de petróleo do mundo, de 30 bilhões de barris, e uma renda per capita equivalente à do Brasil, de US$ 7,6 mil.

Egito: peso político

Também está nos planos do Brasil uma maior aproximação do Egito. O país é o mais populoso do mundo árabe, com mais de 70 milhões de habitantes. Também é a nação que tem maior peso político na região: participa ativamente de organismos internacionais, como a OMC, e abriga a sede da Liga Árabe, principal fórum de representação dos 22 governos árabes do Oriente Médio e Norte da África.

Durante sua viagem Lula se encontrará com o secretário-geral da Liga, Amr Mussa. Um dos temas discutidos será a reunião de cúpula entre chefes de Estado árabes e sul-americanos proposta por Lula e programada para o início de 2004.

O Egito é ainda o terceiro maior importador de produtos brasileiros na região e, neste ano, apenas até outubro, o volume comprado do Brasil já superou o registrado em 2002: está em US$ 389 milhões. Michel Alaby também acredita numa aproximação entre o Mercosul e o país africano.

Síria e Líbano: os primeiros imigrantes

A Síria e o Líbano serão os dois primeiros países visitados por Lula, entre 3 e 5 de dezembro. Os países concentram a maior parte dos imigrantes árabes no Brasil, que começaram a chegar ao Brasil no final do século 19.

O volume de comércio entre os parceiros ainda é pequeno: juntos, esses países importaram do Brasil no ano passado US$ 133,7 milhões. Mas empresários e analistas acreditam na chance de crescimento, principalmente em razão da proximidade cultural.

Investimentos X comércio tradicional

Para Alaby, a viagem do presidente Lula, que vai de 3 a 10 de dezembro, será o "marco do novo relacionamento comercial entre o Brasil e os países árabes". Ele acredita que a visita terá o papel de "abrir portas", para que sejam fechados negócios no futuro. Na avaliação do diretor da CCAB, os setores que devem gerar mais trocas entre os parceiros são: agronegócios, móveis, autopeças, caminhões, tratores, cosméticos, equipamentos médicos, sucos de frutas, balas e doces.

O especialista também espera mais investimentos árabes no Brasil, especialmente em energia, infra-estrutura, agronegócios e turismo. "Os países árabes têm um portfólio de investimento internacional, mas os recursos estão mais concentrados na Europa e em alguns países da África", explicou. "A idéia agora é apresentar o Brasil como opção, e de alto retorno. Vamos lembrar que o país tem uma economia estável, o risco-país caiu e o volume de investimento direto estrangeiro é apreciável".

Para Alaby, a alternativa de fazer parcerias e joint-ventures entre países ou blocos econômicos pode ser uma tendência no comércio mundial. "As trocas primeiras - exportações e importações - estão cada vez mais difíceis", disse. "Isso porque a maior parte dos países adota medidas protecionistas e a concorrência é muito grande: são 180 países brigando pelo mesmo espaço".

O diretor da Câmara ressaltou, porém, que, no caso dos países do Golfo, o protecionismo é baixíssimo. "As tarifas são reduzidas e existem poucas barreiras sanitárias". Na África, porém, a proteção é maior. Por isso, as parcerias seriam uma opção proveitosa.

O Brasil já deu um passo nesse sentido em setembro, quando a Petrobras assinou um memorando de intenções com a estatal argelina de petróleo Sonatrach, para a exploração da commodity.

Michel Alaby espera outros acordos e parcerias no futuro. Para ele, logo após a visita de Lula, os governadores brasileiros devem iniciar missões aos países árabes. "Minha avaliação é a de que qualquer estado que fizer uma missão para a região vai encontrar as portas abertas".