Brasília, 2/12/2003 (Agência Brasil - ABr) - A geração de emprego é a primeira etapa e a mais barata para que o país cresça o necessário e promova a inclusão social. A opinião é do empresário Jorge Gerdau, que participou, na Câmara dos Deputados, do seminário "Produzir para Crescer", promovido pelo PMDB. Do encontro, além de políticos, participaram representantes do governo, empresários e trabalhadores.
Para que o crescimento seja possível, o empresário recomenda o aumento da poupança interna. "Pobre só fica rico poupando. Rico é que pode especular. Isso vale para uma pessoa, uma família e para uma Nação", ensina.
Segundo Gerdau, o país já teve muita poupança, mas não teve qualidade na aplicação. Observou que a falta de poupança eleva as taxas de juros, acrescentando que essas taxas não devem ser superiores a 7% ao ano.
Para Gerdau, é preciso que o governo faça também a sua parte com relação à sua competência gerencial. Segundo ele, enquanto no setor privado a competitividade aumentou mais de 100% nos últimos dez anos, o setor público "não fez nada".
O presidente da Federação do Comércio do Estado de São Paulo e ex-deputado federal, Afif Domingos, elogiou a iniciativa do PMDB de promover o seminário, já que, segundo ele, "a impressão que se passa às bases é que o Congresso Nacional apenas homologa o que vem do Executivo". Afif defende inicialmente a reforma fiscal, para somente depois ser aprovada a reforma tributária.
Ele responsabilizou a elevada carga tributária e a burocracia pelo "altíssimo" índice de informalidade das empresas. De acordo com Afif, um estudo do Serviço Brasileiro de Apoio às Micro e Pequenas Empresas (Sebrae), divulgado ontem, revelou que 72% das pequenas empresas estão na informalidade ou na semi-informalidade. Afif lembrou que estas empresas são as que mais geram empregos.
Para o empresário, o alto grau de informalidade das pequenas empresas "deve ser um alerta ao Legislativo com relação à reforma tributária". Ele observou que quem paga imposto é o consumidor, que "teve queda de 20% na sua renda". Afif revelou que, se o empresário fabrica o produto e não tem consumidor, se for empresa pequena vai para a informalidade, se for empresa média, deixa de pagar impostos, e, no caso de grande empresa, tem que se associar a outras para garantir escala. Ele disse que a reforma tributária pode agravar esse quadro, já que tem visão "fiscalista unilateral".
Aliado do governo, o presidente da Central Única dos Trabalhadores (CUT), Luiz Marinho, disse que nem por isso vai deixar de cumprir o seu papel de criticar o governo quando entender que estão sendo tomadas algumas ações errôneas. Ele apontou, entre essas ações, a não correção da tabela do Imposto de Renda e o futuro acordo com o Fundo Monetário Internacional (FMI), que inclui um superávit primário de 4,25% do PIB para 2004, segundo ele, "comprometedor para a retomada do crescimento".
Sobre a tabela do Imposto de Renda, Marinho informou que ele e o presidente da Força Sindical, Paulo Pereira da Silva, vão se encontrar ainda hoje com o presidente da Câmara dos Deputados, João Paulo Cunha. Ele alertou que não vai adiantar o reajuste conseguido pelos trabalhadores, em torno de 16%, se não houver a correção da tabela. Marinho afirmou que, sem a correção, quem era isento vai passar a pagar imposto. Sobre a previsão de superávit de 4,25% do PIB, ele espera "a intervenção ainda em tempo do presidente Lula".
O sindicalista pediu no seminário a participação do setor privado no projeto de Parcerias Público-Privadas (PPP), "já que o governo tem poucos recursos para investir". Defendeu que essas parcerias ocorram, principalmente, na área de infra-estrutura. Marinho observou que, se ainda não ocorreu falta de energia elétrica, é porque, além das chuvas ajudarem, há ociosidade nas indústrias. Na sua opinião, com o crescimento, haverá falta de energia elétrica já em 2006.
O presidente da CUT insistiu na necessidade de recuperação do poder aquisitivo do trabalhador. Sem isso, ele assegurou, o governo não vai poder honrar o compromisso feito durante a campanha eleitoral de dobrar o valor do salário mínimo em quatro anos. "Para reaquecer o mercado interno as exportações têm que ser preservadas, mas para que o mercado interno cresça tem que haver aumento da renda", argumentou.
Ex-aliado do governo, o presidente da Força Sindical, Paulo Pereira da Silva, criticou duramente o discurso do presidente do Banco Central, Henrique Meirelles, que participou do seminário. "Foi maravilhoso, parecia que estava na Suíça", avaliou. O sindicalista não gostou do presidente do Banco Central ter lido o discurso e ter se retirado sem esperar para ser questionado. "Se foi embora e não ouviu nem a mesa aqui, os outros é que ele não ouve, e todo mundo diz que a culpa de tudo é dele". disse Paulo Pereira.
Na opinião do presidente da Força Sindical, "a política econômica de Lula é pior do que a de Fernando Henrique Cardoso". Ele disse que, em oito anos, o governo anterior desempregou 12 milhões de pessoas enquanto o atual, em oito meses, perdeu 850 mil empregos, e fez cair em 20% a renda do trabalhador.
O sindicalista criticou ainda o superávit primário de 4,25% do PIB e lembrou que era de 3,75% no governo passado. "Conseguiram economizar 5,05% do PIB . Ninguém poderia ser melhor para o FMI" observou irônico.
Paulo Pereira acrescentou que o sistema financeiro lucrou R$ 10 bilhões este ano, inclusive os bancos oficiais. Ele disse ainda que o país tem saída, mas que, para produzir e crescer, tem que baixar os juros.