Murilo Ramos
Enviado especial ao Oriente Médio
Damasco (Síria) – Os jornais da Síria têm dado destaque aos atentados terroristas no Iraque. A chegada de corpos de sete soldados espanhóis a Madrid, por exemplo, foi manchete de três jornais nesta segunda-feira. Os passos do presidente americano, George W.Bush, também são acompanhados de perto. A preocupação tem razão de ser: desde que a guerra no país de Saddam Hussein começou, os Estados Unidos têm acusado a Síria de acobertar a entrada de terroristas em solo iraquiano. Israel, por sua vez, atacou o sul da Síria no mês de outubro. Mais uma vez, os sírios foram apontados como facilitadores das ações de grupos terroristas, que romovem atentados suicidas.
Apesar desse cenário nebuloso nas relações diplomáticas de Damasco, não há sinal de pânico nas ruas. O comércio funciona normalmente. Os bancos abrem no horário certo. As mesquistas
estão sempre movimentadas. O trânsito, com mais táxis do que carros particulares, apresenta a mesma desorganização em virtude de engarrafamentos e falta de sinalização. As pessoas se enfileiram atrás dos telefones públicos a fim de conseguir uma ligação e as lojas, onde aparelhos celulares são habilitados, mantêm-se lotadas.
A venda de jóias está em alta. Aliás, o fascínio local por esses artigos impressiona. Em uma rua na parte velha de Damasco, há aproximadamente 300 joalherias em um espaço de 500 metros. Algumas funcionam em uma portinha, mas expõem vitrines douradas que, às vezes, chamam a atenção de quem está do outro lado da rua. Dificilmente os homens são vistos ao lado das mulheres comprando jóias. O mais usual é o homem, sozinho, fazendo compras para as esposas. Ou ainda mulheres que andam em par. Geralmente gastam minutos a fio em frente às vitrines, se encantando com as preciosidades, que têm preços variados: anéis de R$ 15 a colares e braceletes que ultrapassam R$ 3 mil.
A noite na cidade de Damasco é agitada. Milhares de pessoas andam nas estreitas avenidas de Damasco. Cafés, restaurantes, cinemas – que exibem filmes americanos antigos – e casas de shows típicos ligam luzes de neon para atrair clientes. Nas portas de discotecas, jovens vendem ingressos.
As adolescentes também são vistas por todos os lados. Até mesmo em cima das carrocerias de veículos. Os sons dos carros são ligados em alto volume. Alternam músicas sírias com "hits" ocidentais. Se não fossem pelas roupas da população local e pelos soldados que usam metralhadoras nas rondas, um desavisado poderia se sentir numa sexta-feira de uma cidade qualquer e não em um lugar onde as pessoas - por força da realidade - acabaram se acostumando com a guerra.
Caravana ao Oriente Médio
A chegada do presidente Luiz Inácio Lula da Silva em Damasco, capital da Síria, está prevista para as 5 horas (horário de Brasília). Entre as atividades programadas estão o encontro com o presidente Bashar Al-Asad, reunião com integrantes da comunidade brasileira na Síria e empresários locais. Lula deve deixar a Síria no início da tarde da quinta-feira. Seguirá para o Líbano. Os países a serem visitados depois serão: Emirados Árabes, Egito e Líbia.