Alexandre Rocha
Repórter da ANBA
São Paulo - O ministro do Desenvolvimento, Indústria e Comércio Exterior, Luiz Fernando Furlan, disse ontem (1), em entrevista a jornalistas árabes e à ANBA, que um dos objetivos da Semana do Brasil em Dubai (Brazilian Week & Trade Exhibition) será o de divulgar as oportunidades de investimentos existentes no país. "Pretendemos mostrar projetos para a atração de investimentos, não só em infra-estrutura, mas também em turismo", afirmou.
A Semana do Brasil, organizada pelo ministério, pela Agência de Promoção de Exportações do Brasil (Apex) e pela Câmara de Comércio Árabe-Brasileira (CCAB) será realizada entre os dias 7 e 9 deste mês, nos Emirados Árabes Unidos, e vai ser inaugurada pelo presidente Luiz Inácio Lula da Silva, que começa nesta quarta-feira (3) um giro por cinco países da região.
De acordo com o ministro, o mundo árabe vive um momento propício para a divulgação de oportunidades de negócios, pois "há disponibilidade de capital". "E ao mesmo tempo o Brasil leva adiante grandes programas de investimentos em infra-estrutura, especialmente nos setores de energia e petroquímica, que podem ser de interesse dos árabes", declarou.
Após os atentados de 11 de setembro de 2001 em Nova York e Washington, investidores árabes retiraram grandes quantias de dinheiro que estavam aplicadas nos Estados Unidos. Estima-se algo em torno de US$ 300 bilhões. Paralelamente, o presidente Lula elegeu como uma prioridade tentar atrair investimentos externos para obras de infra-estrutura e saneamento.
Segundo Furlan, um outro grande atrativo é o setor do turismo. O governo quer atrair famílias árabes para fazer turismo no Brasil e, nesse sentido, o grande número de descendentes de árabes residente no país pode ser um trunfo. "O povo brasileiro é amistoso, característica semelhante à dos árabes. Podemos atrair investimentos voltados ao turismo de famílias árabes. Vimos que em alguns países há hostilidade a descendentes de árabes, mas o Brasil, pelo contrário, sempre os recebeu bem", ressaltou ele.
Comércio
Mas a viagem presidencial não vai se limitar a apresentar as opções de investimentos. De acordo com o ministro, a idéia é mostrar aos empresários brasileiros e árabes as opções de intercâmbio existentes.
Falando sobre o Egito, um dos países que serão visitados por Lula, Furlan afirmou que as economias do Brasil e do país do norte da África são complementares. "O Brasil é um grande produtor de alimentos e um grande importador de insumos", afirmou. Já alguns países árabes são grandes produtores de insumos agrícolas, como fertilizantes.
Segundo o ministro, o intercâmbio comercial entre o Brasil e o Egito ainda é pequeno, até porque existem "entraves" no país africano para a entrada de produtos que o Brasil exporta tradicionalmente. "Esperamos verificar onde podemos melhorar (essas relações), inclusive com a possibilidade futura de um acordo comercial mais amplo", disse.
Furlan admite que não será fácil atrair os árabes para uma relação comercial mais próxima, competindo com os Estados Unidos e a União Européia, mas o Brasil, na visão dele, tem algumas vantagens. "O presidente Lula diz que temos que olhar para o exemplo comercial do árabes, para a figura do mascate", disse ele, referindo-se aos vendedores ambulantes, geralmente de origem árabe, que povoaram a realidade e fazem parte do imaginário brasileiro. O próprio Furlan e o ministro da Agricultura, Roberto Rodrigues, são sempre chamados de mascates por Lula, porque vivem promovendo a economia brasileira no exterior.
"Nosso desafio é mostrar o que temos de qualidade, de produtos e mostrar o coração, a emoção. Acho difícil que os países árabes tenham um país tão amigo quanto o Brasil e isso faz a diferença", ressaltou. "Temos que recuperar o tempo perdido", acrescentou.
Segundo o ministro, o Brasil quer se colocar como uma alternativa aos EUA e à UE como parceiro comercial, "não porque somos bonzinhos, mas porque temos produtos com qualidade e tecnologia". Na visão dele, os Estados Unidos e a Europa, como compradores do Brasil, "certificam" a qualidade e a competitividade dos produtos nacionais.
A ligação histórica entre os dois povos, criada por causa da imigração, é um elemento que tem sido levado muito à sério dentro do governo. "Os descendentes vão estar presentes em todas as ações", disse ele. "É difícil sair na rua de uma grande cidade brasileira sem ver alguém de sangue árabe", afirmou.
"Imagino que o presidente Lula vá se sentir tão em casa nos países árabes que vai sentir vontade de voltar lá", disse Furlan, que mesmo antes de assumir o cargo de ministro já conhecia a região como executivo da Sadia, empresa que exporta alimentos para o Oriente Médio há quase 30 anos.
Furlan disse que, durante a viagem, serão assinados vários acordos, mas mais nas áreas de ciência e tecnologia, cultura e saúde, sem muita ênfase no campo comercial. No entanto, ele ressaltou que a visita presidencial é uma primeira iniciativa, a ser seguida por missões menores com objetivos estritamente comerciais. "Os resultados mais práticos, do ponto de vista comercial, virão com o desenrolar dos efeitos da viagem", afirmou.
Transferência de tecnologia
Além do comércio, de acordo com o ministro, o Brasil pode oferecer transferência de experiências bem sucedidas nas áreas da saúde, administração hospitalar, educação, programas sociais, "inserção" de microempresas, governo eletrônico e sistemas de controle de arrecadação, entre outros. "Há muita tecnologia brasileira que pode ser estendida para países semelhantes", declarou Furlan. "Esse intercâmbio já começou com países africanos e poderia ser de interesse dos árabes", acrescentou.
Furlan ressaltou também que o Brasil está muito avançado na área de tecnologias da informação com aplicações para as pequenas e microempresas, na tecnologia bancária e no sistema eleitoral. "Nisso o Brasil da show de bola", afirmou. "Podemos, por exemplo, fazer processamento de dados off shore, como já fazemos para o Japão", ressaltou. Furlan ainda citou a possibilidade de intercâmbio de conhecimento entre universidades.
TV
Para estreitar mais o relacionamento entre os dois povos, o governo estuda ainda a possibilidade de criação de um canal de TV brasileiro voltado para o Oriente Médio. Segundo ele, a idéia é divulgar um material que mostre o Brasil "mais real", não tanto o samba, carnaval e o futebol, e ao mesmo tempo abrir espaço para que os países árabes divulguem no Brasil suas informações.