Para presidente da Comissão de Ética, corrupção é fato político e não só econômico

01/12/2003 - 12h59

Rio, 1/12/2003 (Agência Brasil - ABr) - O presidente da Comissão de Ética Pública da Presidência da República, João Geraldo Piquet Carneiro, disse hoje que a corrupção é um problema gravíssimo no Brasil, porque é um dreno permanente e é um fato político, e não só econômico.

"A percepção da sociedade a respeito da corrupção faz com que ela ponha em dúvida a eficácia do estado democrático e vai se adensando um clima para o qual a imprensa colabora, porque noticia os casos, revelando quase diariamente um novo escândalo. Acho que é inevitável e vai exigir uma atitude do governo mais rápida", afirmou Piquet Carneiro. Ele explicou que, nestes casos, a comissão atua rapidamente porque não tem obrigação de aplicar lei, não está vinculada a um processo legal demorado.

Piquet exemplificou com o caso da viagem da ministra Benedita da Silva à Argentina, em que a comissão recomendou a devolução do dinheiro gasto e "ganhou notoriedade, menos pela substância e mais pela rapidez". Neste e em outros casos, segundo ele, o que aflige a vida social é basicamente a sensação de impotência. E o caso se encerra quando a Comissão se posiciona.

Com base em estudo realizado pela Comissão de Ética Pública, Piquet Carneiro revelou que há áreas mais problemáticas que outras. Um estudo de suscetibilidade à corrupção mostrou que sempre que se reúne poder de regulação com poder de compra, o risco aumenta. Para ser compensado, esse risco precisa ter antídotos de detecção, dentro da própria organização, observou. Outro agravante da corrupção é a burocracia: "O excesso de exigências termina criando o facilitário. Você cria dificuldades, para vender facilidades. Pode não ser uma grande corrupção, no sentido de envolver valores, mas fere a moral cotidiana", disse o presidente da Comissão de Ética.

Piquet Carneiro preside o IV Seminário Internacional da Comissão de Ética Pública, realizado com apoio da Petrobras e do Banco Nacional de Desenvolvimento Econômico e Social (BNDES), na sede da instituição. O encontro é realizado pela primeira vez no governo Lula, que aderiu totalmente ao Código de Ética. Tem ainda a participação, pela primeira vez, de 30% dos atuais gestores de ética do total de 165 representantes setorais que atuam em diversos órgãos do governo e conta com videoconferência para Brasília, no auditório do Serpro.