Bush deve suspender sobretaxa do aço para evitar retaliações internacionais

01/12/2003 - 11h34

Milena Galdino
Repórter da Agência Brasil

Brasília - Os principais jornais dos Estados Unidos, entre eles Washington Post e New York Times, apontam a possibilidade de o presidente norte-americano, George W. Bush, anunciar ainda nesta semana a suspensão da maior parte das tarifas que encarecem o aço importado. Apesar de deixar ainda mais desprotegida a indústria metalurgia nacional, a medida pode ser a única maneira de o país evitar retaliações bilionárias no mercado internacional e de não perder um conflito no âmbito da Organização Mundial do Comércio (OMC), onde é acusado de desrespeitar várias normas internacionais.

O anúncio do fim da sobretaxa ao aço importado deve acontecer depois de terça-feira, quando o presidente passa por Pittsburgh, na Pensilvânia. O estado, junto com Virgínia Ocidental e Ohio, forma o cinturão metalúrgico que abastece a indústria automobilística de Detroit, mas enfrenta decadência econômica desde que começou a competir com os preços mais baixos do produto estrangeiro.

Apesar de extremamente impopular, a decisão de Bush em suspender as tarifas ao aço importado pode ser a única saída para evitar as retaliações de US$ 2.2 bilhões programadas pela União Européia e pelo Japão a partir do dia 15. Esses países ameaçam usar o mesmo jogo, cobrando sobretaxas aos itens importados dos EUA, para forçar a entrada do aço produzido por eles a preços competitivos no mercado norte-americano. A disputa também favorece o Brasil, um dos países na lista de vendedores de aço ao vizinho do Norte.

Caso Bush desista de suspender as tarifas do aço, as sanções européias e japonesas devem atingir, primeiramente, a exportação norte-americana de suco de laranja e frutas cítricas da Flórida, além de motocicletas, maquinário de fazendas, têxteis e sapatos. Com isso, setores inteiros da economia norte-americana podem parar e Bush teria de enfrentar greves nos estados cruciais para sua reeleição, que espera conquistar no pleito de outubro de 2004.

O argumento do presidente dos EUA para suspender as barreiras tarifárias um ano antes do previsto – o que ele tentará fazer sem atrair a antipatia dos trabalhadores da indústria do aço e da população dos estados do cinturão – é de que, nos 20 meses em que vigoraram as sobretaxas ao ao aço estrangeiro, a indústria nacional já conseguiu recuperar o fôlego. A realidade, contudo, ainda não é essa: os metalúrgicos de Pittsburgh enfrentam desemprego e cortes de jornada de trabalho.