Brasília, 28/11/2003 (Agência Brasil - ABr) - O preconceito racial está menor no país, segundo pesquisa divulgada hoje pela Fundação Perseu Abramo. De cinco mil entrevistados, 74% manifestaram alguma atitude racista. Esse resultado revela redução de 13 pontos em relação a pesquisa semelhente, feita pela Datafolha em 1995, quando o índice era de 87%.
A pesquisa revela também que o assunto ainda é um tabu e que as pessoas não admitem seu próprio preconceito. Quando perguntados se há discriminação contra negros no Brasil, 90% responderam que sim, embora 96% tenham dito que não são preconceituosos ou racistas. Em pesquisa semelhante, feita pelo Datafolha em 1995, 88% das pessoas negaram ser preconceituosas.
Para conseguir mostrar a diferença entre discurso e prática, os pesquisadores elaboraram 12 frases que revelam diversos graus de preconceito. Entre elas, afirmações como "negro bom é negro de alma branca", "as únicas coisas que os negros sabem fazer bem são música e esportes", e "negro, quando não faz besteira na entrada, faz na saída".
A pesquisa questionou também o que as pessoas fariam se tivessem um chefe negro, se várias famílias negras se mudassem para a vizinhança ou se um filho se casasse com uma pessoa negra. Foram perguntados também se votariam, ou já votaram, em algum político negro, e sobre quem é mais inteligente, o branco ou o negro.
Além da redução do número de pessoas que revelaram seu preconceito ao responder a essas questões (de 87% para 74%), também dobrou o percentual de entrevistados que não demonstraram discriminar os negros, passando para 26%.
O sociólogo Gustavo Venturi, que coordenou as duas pesquisas (a da Fundação Perseu Abramo e a do Datafolha), disse que é difícil identificar as razões para a alteração nos resultados. Segundo ele, tanto pode ter sido provocado por uma mudança de comportamento dos brasileiros quanto por um maior constrangimento em admitir o preconceito – fruto do pensamento politicamente correto. De qualquer forma, Venturi acredita que já é um avanço, que pode produzir mudanças mais profundas.
Outro dado revelado pela pesquisa é a maior aceitação às políticas chamadas afirmativas, como o sistema de cotas para negros nas universidades e no mercado de trabalho. Hoje, 58% afirmaram que são favoráveis a esse tipo de medida, um crescimento de 11 pontos em oito anos. Mas a maior parte dos entrevistados prefere as políticas que não são específicas para negros. Muitos defenderam, por exemplo, que as cotas sejam adotadas para alunos de escolas públicas.
A secretaria especial de Políticas de Promoção da Igualdade Racial, ministra Matilde Ribeiro, destacou a importância das ações afirmativas como instrumento de compensação das desigualdades e injustiças históricas. "A defesa de políticas universalistas faz parte de uma visão tradicional da política pública brasileira. Nós sempre pensamos a partir das nossas referências, inclusive legais, que a educação, a saúde e o trabalho devam ser para todos. Eu também defendo. Agora defendo também que a desigualdade tem que ser combatida".
Matilde Ribeiro disse que esta opinião, identificada pela pesquisa, é resultado de uma avaliação equivocada sobre o problema. "Nós fomos, de certa forma, educados para pensar que o problema é social. Estas expressões, posturas, leituras de realidade que levam tudo sempre para o social tendem a ignorar as ‘sutilezas’, que são práticas cotidianas que negros e brancos vivem sem perceber. Não é à toa que a maioria dos negros é pobre. Porque eles não têm oportunidades, existem as desigualdades 'naturalizadas' e porque nunca houve, em nosso país, um projeto de inclusão efetiva da população negra", disse a ministra.
A Fundação Perseu Abramo foi criada, em 1996, pelo Partido dos Trabalhadores.