Brasília, 28/11/2003 (Agência Brasil - ABr) - O presidente Luiz Inácio Lula da Silva reagiu com
firmeza hoje ao presenciar uma manifestação contra o projeto de Lei de Biossegurança, enviado pelo governo ao Congresso Nacional. O projeto, entre outras coisas, regulamenta de maneira definitiva a questão dos transgênicos. Durante a solenidade de abertura da Conferência Nacional do Meio Ambiente, na Universidade de Brasília (UnB), alguns manifestantes iniciaram um apitaço
e levantaram faixas com os dizeres: "Lula, defenda seu projeto de biossegurança" e "O projeto de biossegurança está sendo destruído, e o governo não vai fazer nada".
Em resposta, o presidente afirmou que o projeto foi resultado de um amplo debate entre todos os
setores da sociedade. "Eu quero dizer aos companheiros que estão presentes neste ato que não tem forma mais autoritária de comportamento do que uma pessoa tentar fazer com que os seus interesses prevaleçam sobre os interesses da maioria do povo brasileiro", afirmou.
Lula garantiu que, em seu governo, nem a esquerda, nem a direita farão "acontecer nada" sem que haja um amplo debate. Aplaudido pela maioria das cerca de duas mil pessoas que participavam do evento, o presidente afirmou que não tem medo de críticas. "Eu nasci na
política, na diversidade. Aprendi a fazer política na confrontação e vou exercer o governo desse jeito. Se eu tivesse medo de grito, acho que nem teria nascido", disse. Lula lembrou que perdeu três eleições, ganhou a quarta e ressaltou que sabe de "cada compromisso" que tem com o país.
Segundo o presidente, muitas pessoas devem estar "incomodadas" porque seu governo vai fazer o que o "governo de alguns não conseguiu fazer durante tantos anos". Como exemplo, o presidente citou o projeto de lei de proteção à Mata Atlântica, que há 11 anos tramita no Congresso. "O companheiro (ex-deputado) Fábio Feldman é o exemplo maior. Há 11 anos, ele
apresentou um projeto, o partido a que ele pertence governou esse país por oito anos com maioria absoluta no Congresso Nacional, e não foi votado o projeto da Mata Atlântica. Nós não temos mais de 200 deputados e vamos votar, porque política significa capacidade de articular, de convencer". Lula disse que um acordo de lideres na Câmara permitirá a votação desse projeto no dia 3 de dezembro.
Ainda criticando o governo passado, o presidente afirmou que seus compromissos de campanha serão cumpridos, porque tanto ele quanto seus ministros sabem quais são as reivindicações da sociedade brasileira. "Nós vamos fazer, porque, quando terminar o mandato deste governo, nenhum ministro vai morar em Paris, nenhum ministro vai morar em Nova Iorque, nenhum
ministro vai trabalhar para um banco, nenhum ministro vai prestar serviços para multinacionais",
afirmou. "Eu, particularmente, quero voltar para a minha São Bernardo do Campo e poder levantar de manhã, olhar na cara dos metalúrgicos que me fizeram ser político, e dizer: nós não fizemos tudo, mas fizemos mais do que muita gente já fez na história republicana deste país".
Ao falar sobre a necessidade de combater os efeitos da seca no semi-árido brasileiro, o presidente convidou os críticos a verem de perto a realidade daqueles que enfrentam a falta de água. "É muito fácil ficar em São Paulo ou em Brasília fazendo críticas. Eu convido essas pessoas a passar uma seca no semi-árido nordestino para que elas saibam que nós temos que levar água para o nordeste brasileiro. É muito fácil colocar obstáculos ao invés de construir", disse.
Segundo o presidente, seu governo não vai cometer o erro de, a partir de um gabinete em Brasília, fazer um decreto para solucionar um impasse ambiental. Em vez disso, serão realizados debates com todos os setores envolvidos. "A companheira Marina vai ter que sentar com os outros ministros, com governadores, com os trabalhadores, com empresários, e nós vamos encontrar a solução adequada para que a gente faça, pelo menos uma vez na vida, as coisas corretas nesse país", ressaltou.
Durante três dias, cerca de dois mil delegados de todos os estados brasileiros irão discutir as diretrizes da política ambiental, na Conferência Nacional do Meio Ambiente. Os principais pontos do debate são a escassez e qualidade dos recursos hídricos; a exploração ilegal de madeira na Amazônia e as situações de risco ambiental graves, como o armazenamento irregular de
resíduos tóxicos.
Uma conferência infanto-juvenil será realizada simultaneamente e terá a participação de 380 crianças dos 27 estados brasileiros. "Nós estamos trabalhando para que os futuros governantes, empresários e professores já tenham a questão ambiental dentro do sangue que corre em suas veias", afirmou a ministra do Meio Ambiente, Marina Silva.
O encontro nacional foi preparado em pré-conferências estaduais, que contaram com a participação de mais de 65 mil pessoas. O presidente disse que encontros como esse reafirmam o método de atuação do governo. "Ouvir a sociedade é regra, não exceção", disse. A sociedade brasileira, segundo Lula, está consciente da importância da preservação ambiental. Para ele, a "solução para a pobreza não é a destruição do meio ambiente", e o desmatamento não pode
ser "confundido com o desenvolvimento".
Lula assinou um decreto criando a Comissão de Políticas para o Desenvolvimento Sustentável, que, segundo ele, colocará a questão ambiental como eixo orgânico de todas as políticas públicas do país. "Nós temos a firme posição de que o desenvolvimento sustentável passa pelo
estreitamento das parcerias dentro da sociedade, para que a sociedade se relacione de maneira adequada com a natureza. É preciso construir um conjunto sólido, no qual as partes sustentem o todo, porque a sorte de cada um interfere no destino do coletivo", afirmou.