Brasília, 27/11/2003 (Agência Brasil - ABr) - Pesquisa realizada em conjunto pela Universidade Estadual de Londrina (Uel) e Comissão Nacional de Energia Nuclear (Cnen) mostrou que 58% dos suplementos alimentares para animais analisados apresentaram índices de chumbo superiores aos aceitáveis. Isso, no entendimento dos técnicos, se deve, provavelmente, a uma tentativa de reduzir os custos de produção por parte dos empresários.
A maior parte do rebanho bovino do país se concentra no Mato Grosso do Sul. Para alimentar os animais, muitos criadores utilizam os suplementos alimentares de sal mineralizado, que são vendidos por indústrias produtoras e/ou misturadoras. No entanto, nem sempre as matérias-primas que entram na composição dos suplementos são de qualidade.
De acordo com artigo publicado pelos pesquisadores na revista Ciência Rural, edição de julho/agosto deste ano, "as indústrias produtoras e/ou misturadoras, visando baratear custos, para ganhar mercado e garantir suas vendas, utilizam fontes de matérias-primas escolhidas pelo preço mais acessível, inclusive por importação". Uma das maiores preocupações é com a presença excessiva de chumbo nesses suplementos, já que o metal pode causar alterações orgânicas importantes, modificar a performance dos animais, acarretando, inclusive, alterações no sistema reprodutivo dos bovinos, como o abortamento.
Para a pesquisa, foram colhidas 19 amostras de sal mineral: oito diretamente do estoque disponível em estabelecimentos comerciais e 11 de fazendas colaboradoras. De acordo com os pesquisadores, "foram colhidas marcas mais comercializadas nos maiores centros pecuários do estado e as análises foram efetuadas no laboratório da Cnen, em Poços de Caldas (MG)".
Das 19 amostras, constatou-se que 11 estavam com níveis de chumbo superiores ao limite máximo de 30ppm (parte por milhão) permitido pelo Conselho Nacional de Pesquisa. O maior valor encontrado foi de 460ppm e refere-se a uma formulação mineral comercializada em Paranaíba. Para a equipe, a maior suspeita é de que "a presença de chumbo na mistura esteja incorporada às fontes de fósforo, porque estas representam o maior custo na composição de um sal mineral, induzindo os fabricantes a buscá-la em fontes alternativas mais baratas".
Além de afetar o desempenho reprodutivo dos bovinos, os cientistas ressaltam que a absorção de cálcio pelos animais também pode ser prejudicada pela presença de chumbo em formulações minerais e que existe a possibilidade de uma formulação mineral contaminada comprometer a cadeia trófica alimentar, atingindo, inclusive, o homem. Este aspecto representa, segundo eles, "a curto prazo e em larga escala, riscos à saúde pública pelo consumo de produtos e sub-produtos de origem animal potencialmente comprometidos".
Para evitar maiores problemas, a equipe alerta para a necessidade de as empresas misturadoras zelarem pela pureza das matérias-primas de suas formulações, além de "se fazer necessária uma maior vigilância e adequação prática dos ensaios contínuos de rastreabilidade, assegurando que os produtos e subprodutos de origem animal, brasileiros, sejam de inexorável qualidade e oriundos de inquestionáveis criações, já que o país é detentor do maior rebanho comercial de bovinos no mundo". (Agência notisa)