Brasília, 21/11/2003 (Agência Brasil - ABr) - O diretor do Escritório da Organização Internacional do Trabalho (OIT) no Brasil, Armand Pereira, disse hoje que eliminar a participação de crianças e adolescentes no tráfico de drogas é o maior desafio a ser enfrentado nos próximos anos. Segundo ele, o narcotráfico é a área em que as instituições que trabalham pela erradicação do trabalho infantil, inclusive a OIT, têm menos competência e experiência de atuação.
Nesta sexta-feira, a OIT lançou o livro "Boas Práticas de Combate ao Trabalho Infantil", em comemoração aos 10 anos do Programa Internacional para a Eliminação do Trabalho Infantil (IPEC), desenvolvido pela OIT. A publicação analisa a atuação do IPEC no país desde 1992, sua relação com o governo e a sociedade brasileira e apresenta as 10 melhores experiências no campo da erradicação do trabalho infantil. Entre elas, as ações contra o trabalho de crianças e adolescentes no tráfico de drogas no Rio de Janeiro, contra a exploração sexual infantil em Mato Grosso e na fronteira do Brasil com o Paraguai, e a criação do Fórum Nacional de Prevenção e Erradicação do Trabalho Infantil (FNPETI).
Na questão do narcotráfico, um estudo realizado pelo IPEC detectou que, além do aumento da participação de menores neste tipo de atividade, houve uma redução na idade de recrutamento das crianças nos últimos 10 anos. A média caiu de 15 anos para 12 anos. Entre as principais características das crianças envolvidas estão o fato de pertencerem às famílias mais pobres das favelas, terem baixa escolaridade e serem, na maioria, negras ou pardas. Outro aspecto revelado pelo estudo é que esses jovens casam-se muito mais cedo do que a média dos adolescentes.
Em 10 anos, de 1992 a 2002, o Brasil conseguiu reduzir em 40% o trabalho infantil. Mas hoje ainda existem cerca de 5,4 milhões de crianças e jovens, de 5 a 17 anos, exercendo alguma atividade, de acordo com dados da Pesquisa Nacional por Amostragem de Domicílio (PNAD), do IBGE, de 2001. Muitos sequer recebem pelo trabalho, situação que se agrava quanto mais novo é o trabalhador.