Triticultor acusa indústria de descumprir acordo sobre comercialização da safra

20/11/2003 - 17h35

Brasília, 20/11/2003 (Agência Brasil - ABr) - O presidente da Comissão Nacional de Cereais, Fibras e Oleaginosas da Confederação da Agricultura e Pecuária do Brasil (CNA), Macel Caixeta, acusou hoje o setor industrial de trigo de estar descumprindo acordo firmado com os produtores. Segundo ele, isso está dificultando a comercialização da atual safra e ameaçando o projeto de diminuir a dependência do Brasil das importações, para atender o consumo interno.

Caixeta fez a denúncia hoje na audiência pública da Comissão de Agricultura e Política Rural (CAPR), na Câmara dos Deputados, que tratou da crise na triticultura brasileira. De acordo com ele, os produtores rurais, motivados por um acordo realizado com a indústria, se comprometeram a produzir 50% do consumo nacional e cumpriram. "A indústria concordou em dar preferência de compra ao produto nacional, pagando o preço de paridade de importação, mas isso não está acontecendo", revelou.

Segundo Caixeta, a indústria saiu do mercado, preterindo a aquisição da produção nacional e fazendo com que os preços recebidos pelos produtores despenquem no mercado. O acordo entre produtores e indústria foi firmado há três anos no Ministério da Agricultura, lembrou o representante da CNA. Ele também destacou que, em Goiás, o trigo está sendo negociado a R$ 480,00 por tonelada; embora o valor devesse ser, pelo menos, R$ 600,00, caso se cumprisse o acordo com o setor industrial.

Cálculo da CNA mostra que os produtores paranaenses, responsáveis por 52% da atual safra de trigo - 2,7 milhões de toneladas - acumulam os maiores prejuízos. No Paraná, o trigo está sendo negociado a R$ 375,00 por tonelada, muito abaixo do preço de paridade de importação do trigo argentino, que R$ 548,00 por tonelada. "O preço de comercialização atual se encontra abaixo do preço mínimo, de R$ 400,00 por tonelada, e projeta um prejuízo para os produtores de R$ 127,5 milhões no ano", disse Caixeta.

A produção nacional de trigo estimada para este ano é de 5,1 milhões de toneladas, contra 2,9 milhões de toneladas, da safra anterior, um crescimento de quase 80%. Isso facilita o abastecimento interno, estimado em 10 milhões de toneladas por ano, e reduz as despesas com importações. No entanto, as dificuldades para comercializar a atual safra podem desestimular os triticultores a ampliar suas lavouras no futuro. Isso obrigaria o governo a adiar os planos para que nos próximos anos pelo menos 60% da demanda interna seja atendida por produto brasileiro.

Caixeta defendeu que o Brasil taxe em 15% a importação de pré-mistura argentina (preparado à base de farinha de trigo). "A Argentina grava (taxa) as exportações de trigo e de farinha de trigo com 20%, enquanto que a pré-mistura é de 5%. Para fugir da maior taxação, a indústria Argentina está exportando a pré-mistura e aumentando a sua participação na comercialização de farinha no mercado brasileiro", disse, ao defender que todos os produtos do segmento, na prática, estejam submetidos à mesma taxação de 20%.