Lula e Lessa assinarão compromisso para construção do Memorial Zumbi

20/11/2003 - 7h03

Lourival Macedo
Enviado especial

União dos Palmares (AL) - A Serra da Barriga, que o presidente Luiz Inácio Lula da Silva visitará nesta manhã, foi tombada pelo Patrimônio Histórico Nacional em 1985 e das antigas construções de pau-a-pique que formavam o Quilombo dos Palmares, não existe mais nada.

Em 1995, quando o então presidente Fernando Henrique Cardoso esteve no local, foram construídos alguns mocambos (casas de palha) e uma cerca, mas com as chuvas e a falta de manutenção, restaram no antigo quilombo apenas três mirantes para observar o vale, a 535 metros de altitude. A serra foi o local escolhido pelos escravos liderados por Zumbi, pela visão privilegiada de quem vinha ao longe e devido à dificuldade de ser atingida pelos inimigos.

O secretário-executivo de Defesa e Proteção das Minorias do Governo de Alagoas, Zezito de Araújo, disse que com a visita de Lula, não só os mocambos foram reconstruídos, mas mais um avanço será dado para a preservação do local: a assinatura de um termo de compromisso entre os governos Federal e de Alagoas para a construção do Memorial Zumbi. Zezito, que é também professor de História da América Latina e da África, acrescentou que numa área de cerca de 500 hectares será criado um grande espaço para o estudo da trajetória do negro, tanto no continente africano quanto na diáspora, aqui no Brasil, e para tornar a Serra da Barriga um grande museu vivo. "As 73 famílias que vivem na Serra da Barriga não são descendentes dos quilombolas. São negros e brancos miscigenados que vivem da cultura de subsistência", explicou o professor.

Um dos moradores mais antigos do local, Antônio Feitosa da Silva, que prefere ser chamado pelo apelido de Sanhasu de Alagoas, lembra que o quilombo de Palmares resistiu por 90 anos às investidas de jagunços e soldados. E que Zumbi foi morto em 1694, mas parece ainda estar presente entre as imagens de orixás feitas em barro, "para proteger as plantações e a população". Aos 71 anos, Sanhasu de Alagoas nasceu na Serra da Barriga e produz batata, mandioca, inhame e laranja, em uma área demarcada pelo Incra. "Produzo um pouco de cada coisa, que vendo de porta em porta lá embaixo da serra, em União dos Palmares. E tiro um dinheirinho que junto à aposentadoria rural para comprar as coisas de casa", revela, acrescentando que além do trabalho, gosta "de cantar embolada e fazer trovas".