Lula e Frei Betto protagonizam curta-metragem no Festival de Brasília do Cinema Brasileiro

20/11/2003 - 16h51

Brasília, 20/11/2003 (Agência Brasil - ABr) - Durante a ditadura, o cartunista Henrique de Souza Filho, mais conhecido como Henfil, escreveu uma série de crônicas sobre o Brasil sob a forma de cartas à sua mãe. Os textos foram publicados na Revista Isto É e, posteriormente, foram transformados no livro intitulado "Cartas da Mãe", nome que Fernando Kinas e Marina Willer batizaram o curta-metragem que será exibido amanhã (21) às 20h30, no Cine Brasília, durante o 36º Festival de Brasília do Cinema Brasileiro.

Em suas mais de 400 cartas, sempre endereçadas à Dona Maria, Henfil falava sobre tudo: política, família, amigos, "sempre com uma linguagem simples e coloquial", diz Fernando Kinas. Seu irmão mais velho, Herbert José de Souza, o sociólogo Betinho, foi perseguido durante o regime militar no Brasil, sendo obrigado a viver no exílio por muitos anos. Em sua coluna, que estreou em março de 1977, Henfil, através do humor, fez várias referências ao irmão e ao regime militar. Henfil era hemofílico e morreu, em 1988, de aids aos 44 anos. Betinho, que idealizou a campanha do Natal sem fome, também, assim como Henfil, foi uma das vítimas da aids.

De acordo com o diretor, o curta-metragem, de 28 minutos, pode ser dividido em três momentos. Em um deles, são projetadas as imagens de Brasil atual, com os textos de Henfil narrados em "off" pelo ator Antonio Abujamra. Representando as famosas charges do cartunista, são mostradas, no curta, animações baseadas em suas histórias em quadrinhos.

Um dos grandes destaques do filme, no entanto, são os depoimentos de colegas de trabalho e amigos pessoais de Henfil. Entre eles, estão pessoas célebres, como Angeli, Laerte, Luís Fernando Guimarães e o presidente Luís Inácio Lula da Silva que, na época em que o documentário foi filmado, em 2000, apenas "sonhava" em ser o presidente da República.

Carlos Alberto Libânio Christo, o Frei Betto, assessor especial da Presidência da República e amigo dileto de Lula, também dá a sua colaboração para o filme por meio de um depoimento, por escrito, que encerra o filme. A estratégia do depoimento por escrito deve-se ao fato de Frei Betto, até tornar-se colaborador de Lula no Palácio do Planalto, se recusar veementemente a aparecer na frente das câmeras, memo as fotográficas.

Como franciscano convicto, ele não queria se deixar seduzir pela magia das câmaras, já que acreditava ser isso uma forma de trangressão e de violação de seus ideais religiosos. Hoje, na condição de uma das pessoas que o presidente Lula mais ouve, não teve como esquivar-se,e fala com desenvoltura sobre os objetivos e projetos sociais do governo petista. Ao contrário das câmaras, Frei Betto é muito sensível à palavra escrita. Ele possui cerca de 30 livros publicados no Brasil e no exterior e escreve regularmente para vários jornais de circulação nacional.