Brasília, 20/11/2003 (Agência Brasil - ABr) - O presidente da Comissão Pastoral da Terra, Dom Tomás Balduíno, comparou o movimento pela reforma agrária, que reúne diversas entidades, ao movimento Diretas-Já, ocorrido em 1984. "O número de pessoas é menor, mas é uma marcha simbólica, onde há espaço para o consenso na sociedade brasileira e a união entre as organizações da terra. Por isso, acredito que o governo anunciará medidas favoráveis aos
sem-terra", disse Dom Tomás, na expectativa do lançamento do Plano Nacional de Reforma Agrária, previsto para os próximos dias.
Dom Tomás Balduíno deu as declarações em entrevista coletiva no Pavilhão de Exposições do Parque da Cidade, na qual comentou a caminhada dos trabalhadores de Goiânia até Brasília. Os sem-terra saíram de Goiânia no dia 11 deste mês e chegaram hoje à Brasília, numa caminhada de mais de 200 quilômetros. No Parque da Cidade, estão acampados mais de três mil trabalhadores rurais sem terra.
Na entrevista, representantes do Fórum Nacional pela Reforma Agrária e Justiça no Campo pediram "urgência na democratização do acesso à terra e à água, uma ampla reforma agrária e o fortalecimento da agricultura familiar". O Fórum representa 42 entidades, entre elas o Movimento dos Trabalhadores Rurais Sem Terra (MST), a Confederação Nacional dos Trabalhadores na Agricultura (Contag), a Comissão Pastoral da Terra (CPT), a Conferência Nacional dos Bispos do Brasil (CNBB), a Rede Social de Justiça e a Via Campesina.
Os líderes destes movimentos sociais manifestaram também satisfação com a audiência que terão amanhã (21), às 11 horas, no Palácio do Planalto, com o presidente Luiz Inácio Lula da Silva. Um dos coordenadores nacionais do MST, João Paulo Rodrigues, afirmou que todos aguardam com muita expectativa o encontro de amanhã com o presidente Lula. "Vamos ouvir o presidente Lula, saber dele, de fato, quais serão os números sobre o Plano Nacional de Reforma Agrária no que diz respeito às famílias beneficiadas, o volume de recursos, qual será a política de agroindústria e sobre a infra-estrutura dos assentamentos".
Segundo João Paulo, a partir da audiência com o presidente da República é que os movimentos sociais se reunirão para definir o que vão fazer ainda neste ano e no ano que vem. "O nosso movimento (MST) quer fazer parceria com o presidente Lula e ajudar o governo a combater o latifúndio, mas é claro que temos que ter uma meta ousada, porque neste ano a previsão era de assentamento de 60 mil pessoas e, até o momento, só foram assentadas cinco mil famílias ligadas ao MST", disse João Paulo.
Para ele, a reforma agrária tem que ser implantada com urgência para levar paz ao campo. "A cada dia que passa, aumenta a violência no campo. Só neste ano foram assassinados 56 trabalhadores em algum tipo de conflito agrário. Nós não queremos que isso continue acontecendo no Brasil", afirmou João Paulo Rodrigues.
Dados divulgados pelos líderes do Fórum Nacional pela Reforma Agrária e Justiça no Campo informaram que atualmente 200 mil famílias estão acampadas às margens de rodovias em todo o país e 800 mil foram cadastradas pelo governo anterior. "É preciso mudar o modelo agrícola, incorporando a agricultura familiar nesse processo produtivo", disse Izidoro Revers, um dos coordenadores da Comissão Pastoral da Terra.
O presidente da Contag, Manuel dos Santos, destacou que "os trabalhadores não querem apenas ter acesso à terra, mas também ao planejamento do programa de reforma agrária, integrando as famílias com programas nas área de educação, saúde e moradia".
Os líderes dos trabalhadores rurais que lutam pela a reforma agrária demonstram a unidade do movimento até no discurso. Todos eles disseram que "o governo Lula veio para fazer mudança também na reforma agrária".
Amanhã, após a audiência com o presidente Lula, os trabalhadores vão realizar uma manifestação em frente à Embaixada dos Estados Unidos, mas não será em defesa da reforma agrária e sim contra a implantação da Área de Livre Comércio das Américas (Alca).