Brasília, 18/11/2003 (Agência Brasil - ABr) - Ajudar o homem a perceber que ele é parte de um todo. Esse é um dos propósitos do próximo, e último, trabalho do fotógrafo Sebastião Salgado, Gênesis. O projeto, que terá início em janeiro de 2004, foi lançado na tarde hoje em entrevista coletiva na sede da Organização das Nações Unidas para a Educação, Ciência e Cultura (Unesco).
A Unesco irá oferecer apoio institucional ao projeto, fornecendo ao fotógrafo toda a infra-estrutura e facilidades necessárias para o que Salgado define como um processo de imersão durante oito anos em diversos países do mundo. Segundo o representante da Unesco no Brasil, Jorge Werthein, o projeto de Salgado "tem tudo a ver com o que a Unesco é, com o que a Unesco defende".
Sebastião Salgado explicou que o nome do projeto, Gênesis, remete a uma volta às origens. Segundo o fotógrafo, o homem esqueceu que é parte integrante do planeta. "A gente virou um animal quase puramente urbano, um animal quase puramente racional, a tal ponto que a gente não se considera mais um animal, a gente se considera um ser superior", disse Salgado, um dos mais respeitados profissionais da atualidade e representante especial do Fundo das Nações Unidas para a Infância (Unicef) desde 2001. Através de profunda pesquisa fotográfica, Salgado pretende sensibilizar as pessoas para que voltem os olhos para o planeta que, segundo ele, "está nos colocando para fora".
O projeto Gênesis terá quatro capítulos, que simbolizam o mundo antes da "brutal interferência do homem".O primeiro capítulo, Criação, vai tratar da natureza. Para falar dos animais, Salgado intitulou um capítulo de A Arca de Noé, no qual pretende retratar os animais com igualdade e dignidade compreensíveis pelos padrões humanos. Os dois últimos capítulos falam do Homem Antigo e das Sociedades Primitivas, em que o fotógrafo quer visitar novamente as populações indígenas que apelidou de "nós de ontem". O primeiro lugar no itinerário das fotos deve ser das ilhas Galápagos, local de estudo do cientista Charles Darwin e de sua teoria da "seleção natural".
"Estou partindo para esse projeto com imenso amor no coração a tudo ligado ao nosso planeta", afirmou o fotógrafo, que o anuncia que como seu último projeto. De acordo com seus cálculos, se agora ele tem 60 anos, ao término, deverá beirar os 70 e "estar velho demais para outra intentada dessa natureza". Ele disse que esse é o fim de um ciclo iniciado com os trabalhos anteriores.
As anotações e observações feitas durante todo o processo serão reunidas para constituir um material didático que será distribuído nas escolas. Inicialmente, esse trabalho circulará no Brasil e em países africanos de língua portuguesa, mas Salgado tem planos de traduzi-lo e levá-lo a outros países. Sebastião Salgado mantém, junto com a esposa, Lélia, um projeto de reflorestamento da Mata Atlântica, que pode ser conhecido através do site http://www.institutoterra.org
Formado em economia, o mineiro Sebastião Salgado começou a trabalhar com fotografia em 1973. Sua obra, que enfoca a vida das pessoas excluídas, resultou na publicação de 10 livros e na realização de várias exposições, que lhe renderam muitos prêmios e homenagens na Europa e no continente americano.
"Espero que a pessoa que entre nas minhas exposições não seja a mesma ao sair", diz o fotógrafo. "Acredito que uma pessoa comum pode ajudar muito, não apenas doando bens materiais, mas participando, sendo parte das trocas de idéias, estando realmente preocupada com o que está acontecendo no mundo". Salgado vive em Paris com a família.